Nenhum outro político gaúcho está tão encrencado na Lava-Jato quanto José Otávio Germano (PP-RS). Apesar de ter acusação rejeitada por unanimidade nesta terça-feira (17) no Supremo Tribunal Federal (STF), o deputado é réu em outra ação penal na Corte e foi denunciado por um terceiro inquérito instaurado com base na operação.
Não é de hoje que o parlamentar se vê envolvido em suspeitas. Na década passada, foi investigado por suposta participação em fraudes no Departamento Estadual de Trânsito (Detran) e em desvios em prefeituras da Região Metropolitana. Ele foi condenado pela 3ª Vara Federal de Santa Maria por improbidade administrativa na Operação Rodin, que apurou os desvios no Detran, e teve o inquérito no STF sobre a Operação Solidária, a respeito de obras em municípios, arquivado por insuficiência de provas.
A eclosão da Lava-Jato voltou a tisnar a imagem do deputado federal em quarto mandato. Incluído na célebre Lista de Janot – rol dos políticos investigados pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot –, José Otávio passou a responder a três inquéritos.
Num deles, foi denunciado por suspeita de receber entre R$ 30 mil e R$ 150 mil por mês de suborno no esquema conhecido como quadrilhão do PP. Em outro, teria recebido R$ 400 mil do esquema de desvios na Petrobras, caso pelo qual já é réu ao lado de outros três nomes do partido. O terceiro, arquivado nesta terça, foi apontado como repassador de propina para o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.
Quando a lista de Janot foi entregue ao STF, também estavam nela outros cinco deputados do PP gaúcho – Afonso Hamm, Jerônimo Goergen, Luis Carlos Heinze, Renato Molling e Vilson Covatti. Todos tiveram as investigações contra si arquivadas.
Restou apenas José Otávio, cujas denúncias acumuladas nos últimos anos constrangem o partido. Nos bastidores, dirigentes e parlamentares afirmam que seria melhor para a legenda se ele não concorresse à reeleição em outubro.
Parlamentar diz ter inimigos no partido
O deputado diz que não abre mão de disputar novo mandato – e, de quebra, garantir mais quatro anos de foro privilegiado. Em carta a apoiadores, foi explícito ao alertar que enfrenta inimigos dentro do próprio PP. “Não podemos tratar a eleição como uma brincadeira. Agora é guerra. E os nossos concorrentes são os do nosso partido. Não levem ninguém mais para compadre”, escreveu.
Um dia após a mensagem ser divulgada, José Otávio teve um assessor preso pela Polícia Federal (PF), em Brasília, por suspeita de participar de quadrilha de tráfico de armas. Robson Pereira da Rocha Silva foi flagrado durante a investigação vendendo ao menos uma pistola calibre .380 sem registro. Informado da prisão, o deputado disse que “confia em seu assessor” e que “tudo será esclarecido”.
CONTRAPONTO
O que diz José Otávio Germano (PP-RS):
A assessoria do deputado não quis comentar os casos pelos quais ele já é réu e denunciado, mas encaminhou nota sobre a acusação arquivada ontem. “A acusação era falsa e mentirosa. A verdade, por vezes, demora um pouco a vir à tona. Mas sempre vem”, diz trecho do texto.