Aos poucos, os caminhoneiros estão voltando ao trabalho, mas a demonstração de força dada nesses 10 dias deixa lições que o governo de Michel Temer e os próximos não podem ignorar, sob pena de se repetir o caos instalado desde que a paralisação começou. A primeira das lições é que a paciência tem limite.
O primeiro grande erro do governo foi achar que para sanear a Petrobras podia aplicar reajustes diários no preço do diesel, sem que fosse dado aos transportadores a possibilidade de repassar o aumento de custo para o frete. Entre o represamento adotado no governo Dilma Rousseff, que quebrou a Petrobras, e a política de alterações diárias de Pedro Parente, há que encontrar o meio termo.
A palavra previsibilidade, tão cara ao mundo dos negócios, foi ignorada para os caminhoneiros, que enfrentaram o absurdo de encher o tanque a um preço e enfrentar dois, três ou quatro aumentos do diesel até chegar ao destino da carga.
A segunda lição é que de uma categoria capaz de parar o Brasil pelo WhatsApp não se pode ignorar os alertas. O Planalto subestimou o movimento pela incapacidade de compreendê-lo. Não sabia com quem estava negociando quando anunciou em Brasília o primeiro acordo, ignorado nas estradas do país. Agora se sabe que não existe uma associação que represente todos os caminhoneiros, que as empresas podem fazer locaute quando estão em jogo seus interesses e que no meio das reivindicações legítimas fermenta uma onda política que flerta com o autoritarismo.
As faixas pedindo intervenção militar se multiplicaram na esteira de uma insatisfação popular detectada nas pesquisas e que cresce com as denúncias de corrupção, o aumento de preços e a ausência do Estado nas áreas que são de sua responsabilidade, como a saúde e segurança.
Quem desconhecia a força do WhatsApp aprendeu que é esse o meio preferido pelos organizadores de protestos para se comunicar. Barata, rápida, acessível de quase todos os pontos do país, a ferramenta desnorteou o serviço de inteligência do governo.
Daqui a 60 dias, deixa de vigorar a combinação entre o corte de R$ 0,46 e o congelamento do preço do diesel. A incerteza em relação ao que vem depois garantiu uma sobrevida à greve. Esse prazo coincide com o fim da Copa do Mundo e com o período de convenções que escolherão os candidatos. A política de preços da Petrobras e o destino da estatal serão temas da campanha, mas o governo Temer ainda tem sete longos meses pela frente.
Aliás
Quem apoiou a greve dos caminhoneiros na esperança de ver baixar o preço da gasolina saiu frustrado e terá, nos próximos dias, motivos para se preocupar com os efeitos de uma das conquistas dos movimento: apesar da redução do preço do diesel, o frete ficará mais caro e o valor será repassado aos produtos.