Utilizada pelo governo para segurar o dragão da inflação, a Petrobras já vinha com a imagem arranhada dentro e fora do país, por excesso de interferência política na empresa. Suspeitas que envolvem a compra bilionária de uma refinaria em Pasadena, no Texas (EUA) e do suposto suborno para acelerar contratos foram agravadas ontem pela prisão de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da estatal, na operação Lava Jato.
Conforme a Polícia Federal, parentes de Costa estariam destruindo documentos da atual empresa do ex-executivo da Petrobras, um dos responsáveis pela negociação da refinaria americana. Alvo de críticas desde 2006, quando começaram as tratativas com a empresa belga Astra Oil Company, a transação voltou à cena com a investigação do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Polícia Federal (PF) sobre supostas irregularidades no negócio - responsável por causar prejuízo de quase US$ 1 bilhão à companhia brasileira.
Aprovada por Dilma Rousseff quando a presidente comandava o conselho de administração da estatal, a decisão teria sido embasada em relatório "técnica e juridicamente falho" feito pela diretoria da época, conforme justificativa do Palácio do Planalto. Protegidos pelo anonimato, ex-dirigentes reagiram afirmando que havia informações disponíveis suficientes. Na semana passada, outro episódio envolvendo a Petrobras provocara a criação de comissão da Câmara dos Deputados para apurar denúncias de suborno.
- O investidor que já estava desconfiado com a intervenção do governo fica ainda mais ressabiado - avalia Valter Bianchi, analista da corretora Fundamenta.
Governo tenta conter estragos de imagem e elaborar ofensiva
Antes que vingue uma antiga intenção de criar uma comissão parlamentar de inquérito sobre a Petrobras, o Planalto tenta conter os estragos para a estatal e arranhões à imagem de Dilma. Está em elaboração relatório que destaca o fato de a decisão de compra da refinaria de Pasadena ter sido compartilhada com outros integrantes do conselho na época. Também há tentativa de tentar carimbar as investigações como um ataque à estatal que partiria de defensores da privatização.
- A Petrobras tem uma importância simbólica muito grande para o brasileiro e pode pesar na hora do voto. A tentativa do PSDB de mudar o nome da empresa para Petrobrax na década de 1990 foi um tiro no pé e serviu de munição para campanha de Lula em 2002. Então, denúncias como essa causam grave desgaste. Mais danoso que isso, só se a inflação continuar alta - avalia Roberto Romano, cientista político e professor da Universidade de Campinas (Unicamp).
Exposição da caixa preta
- Para controlar a inflação, o governo freia aumento no preço dos combustíveis, mesmo quando o barril de petróleo se mantém mais alto no Exterior, resultando em problemas de caixa.
- A intervenção nos preços e problemas na produção corroeram o valor das ações. Em fevereiro, chegaram ao menor nível desde 2005.
- O desequilíbrio no caixa pressiona a dívida da Petrobras. A empresa pode ter sua nota de crédito rebaixada.
Propina holandesa
Investigações nos EUA e na Holanda apontam que entre 2006 e 2011 a companhia holandesa SBM Offshore, que aluga plataformas, teria pago suborno em diferentes países, incluindo o Brasil. O objetivo seria acelerar o fechamento de contratos.
Não há confirmação de envolvimento do Brasil, mas dados vazados na internet por ex-empregado da SBM apontam a Petrobras como uma das companhias que teriam recebido dinheiro. O valor seria de US$ 139 milhões. Graça Foster, presidente da Petrobras, abriu auditoria.
Pesadelo em Pasadena
A empresa belga Astra Oil Company comprou refinaria em Pasadena por US$ 42,5 milhões em 2005. Um ano depois, a Petrobras pagou US$ 360 milhões por metade da unidade, negócio aprovado por Dilma, então presidente do conselho de administração. Em 2007, recebe proposta para comprar tudo.
O conselho veta o negócio. A belga recorre à Justiça americana para obrigar a estatal brasileira a adquirir a outra parte. Em 2012, a Petrobras é obrigada a pagar à Astra Oil US$ 820 milhões para comprar os 50%. A estatal tenta vender a unidade, mas a oferta mais alta que recebe é de US$ 180 milhões. Suspeitas de irregularidades passam a ser investigadas.