O metrô de Porto Alegre não saiu do papel por falta de dinheiro, é verdade, mas a Odebrecht já tinha sido vetada em uma etapa anterior e não no momento em que o projeto entrou em hibernação, como sugere o acordo de leniência da Camargo Corrêa. Foi o então prefeito José Fortunati que, em abril de 2013, rejeitou um projeto faraônico do consórcio Invepar-Odebrecht e anunciou novo edital para a apresentação de Proposta de Manifestação de Interesse (PMI). Motivo: o custo estimado era de R$ 9,5 bilhões, três vezes superior ao previsto inicialmente.
– Era um projeto absurdo. As estações mais pareciam um shopping center de Dubai – relembra Fortunati.
Somente dois candidatos apresentaram estudos na primeira PMI, a Brusten P.M. e o consórcio Invepar/Odebrecht. O desinteresse de outras empreiteiras ganha sentido com a confissão dos executivos da Camargo Corrêa, de que o cartel apelidado de “Tatu Tênis Club” loteava as obras dos metrôs desde 1998.
O estudo da Brusten foi descartado por não atender a requisitos mínimos do edital. O da Odebrecht, por ser caro demais. Previa a construção pelo método “shield”, popularmente conhecido como “tatuzão”, que escava o subsolo, reduzindo os transtornos na superfície.
Fortunati determinou a abertura de um segundo processo. Nessa nova PMI, cinco consórcios se habilitaram (ATP Engenharia-Headwayx e AGR projetos e estruturação, Triunfo Participações e Investimentos, Queiroz Galvão, Invepar-Odebrecht e C.R. Almeida).
A comissão julgadora escolheu o projeto da Triunfo, o que reduziria o custo para R$ 4,84 bilhões, mas a crise financeira do Estado e da prefeitura acabou inviabilizando a construção.
Se a comissão de licitação tivesse acatado a proposta da Odebrecht, o metrô, que acabou não saindo do papel, estaria na lista das obras superfaturadas, como a linha Ipanema-Barra da Tijuca, no Rio. A cautela livrou Fortunati de figurar entre os investigados da Lava-Jato:
– As propostas foram avaliadas por 29 técnicos da prefeitura e excluíram a Odebrecht porque apresentou estudos fora de qualquer parâmetro aceitável. A Triunfo não está na Lava-Jato.
Aliás
No Rio Grande do Sul, a Odebrecht se habilitou a construir o metrô e a ERS-010, a Rodovia o Progresso, que seria uma parceria público-privada, mas nunca saiu do papel.