Duas decisões em instâncias diferentes do Judiciário atingiram o coração do PT e do PSDB, os dois partidos que desde 1994 se digladiam pelo poder no Brasil. Em Brasília, o Supremo Tribunal Federal (STF) poupou Aécio Neves da prisão, mas determinou seu afastamento do Senado e uma espécie de “toque de recolher”: ele não pode sair de casa à noite e terá de entregar o passaporte. Em Porto Alegre, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) referendou a condenação do ex-ministro José Dirceu (PT) e ampliou de 20 para 30 anos a pena imposta pelo juiz Sergio Moro. É um indício do que espera o ex-presidente Lula, condenado a nove anos e meio de prisão por Moro e que aguarda julgamento de recurso no TRF4.
Os petistas agarram-se a outra decisão do mesmo TRF4 para alimentar a esperança de que a sentença de Moro seja reformada em segunda instância e ele fique livre para concorrer outra vez à Presidência. Por falta de provas, os desembargadores federais absolveram o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, acusado de receber propina da Engevix. Vaccari, que está preso, deve ganhar a liberdade. Dirceu, que está livre, deve voltar para a cadeia.
Por ter 71 anos, a pena de 30 anos para Dirceu equivale à prisão perpétua, instituto que não existe na legislação penal brasileira. Ministro mais poderoso do começo do primeiro governo Lula, ao lado de Antonio Palocci, o ex-guerrilheiro Dirceu adotou postura oposta à do antigo colega e não entregou companheiros. Palocci, o médico que fazia a ponte entre o PT e os grandes empresários, delatou Lula em depoimento a Moro, reforçou as acusações na carta em que pede a desfiliação do partido e negocia um acordo de colaboração premiada com o Ministério Público para sair da cadeia.
Aécio e Lula vivem uma situação bem diferente em seus partidos.
O PSDB já rifou o senador mineiro e nem em mesa de bar os tucanos cogitam a possibilidade de fazer dele o candidato a presidente. Se puder ser candidato em 2018, Aécio deve tentar uma vaga na Câmara, para garantir o foro privilegiado sem precisar disputar uma eleição majoritária. O senador afastado não terá como escapar de um processo e poderá ser ficha suja até a eleição.
Lula, ao contrário, é o nome do PT para o Planalto e está em campanha aberta pelo país. O destino de sua candidatura depende do mesmo TRF4, que ampliou as penas definidas por Moro para vários réus da Lava-Jato. Se Lula não puder concorrer, o candidato petista terá o ônus e o bônus de ser o herdeiro do legado do ex-presidente que lidera as pesquisas mas é, também, um dos campeões de rejeição.
A derrocada de Aécio é um revés para o projeto político do PSDB de retornar ao Planalto. Porque ele não é um senador qualquer. Era o presidente do partido quando veio à tona a delação dos donos da JBS, com gravações comprometedoras e vídeo da entrega de malas de dinheiro. Seja quem for o candidato do PSDB em 2018, terá de carregar Aécio como um peso morto.
Aliás
A carta em que Antonio Palocci pede desfiliação do PT é um dos ataques mais pesados à imagem do partido e do ex-presidente Lula, porque vem de um companheiro com acesso aos segredos de Estado no governo dele e de Dilma Rousseff.