São inequívocos os sinais de que o sistema político brasileiro apodreceu. O que virá depois? Essa resposta nenhum cientista político tem. O efeito dominó, que vai derrubando políticos antes intocáveis, abre caminho para mudanças que deveriam ter sido feitas há muito tempo, mas sempre esbarraram nos interesses econômicos de uma classe que se acostumou com os desvios de dinheiro público e freou todas as iniciativas de reformar as estruturas carcomidas.
No futuro, a história do Brasil poderá ser dividida entre antes e depois da Lava-Jato, uma operação que começou modesta, foi ganhando corpo e ninguém ousa prever como vai terminar. A descoberta das tentativas de implodir a investigação e de tirar poder do Ministério Público acabam por fortalecer as instituições em geral e a Lava-Jato em particular. Se a ideia era usar o remédio da Constituinte para esvaziar a investigação, a delação de Sérgio Machado acaba por implodir essa estratégia.
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Nesses dois anos de vida, a Lava-Jato fez mais pelo combate à corrupção do que nos séculos anteriores, desde a chegada dos portugueses. Nunca se conseguiu recuperar tanto dinheiro roubado – ainda que os valores devolvidos representem uma ínfima parte do que saiu dos cofres das estatais em anos e anos de superfaturamento de obras públicas, pagamento de propina e evasão de divisas. A melhor notícia que a força-tarefa da Lava-Jato pode dar aos brasileiros é a de que roubar dinheiro público ficou mais difícil graças à combinação de quatro elementos: homens e mulheres comprometidos com a investigação no Judiciário, no Ministério Público, na Polícia Federal e na Receita Federal, tecnologia para cruzar dados, legislação que estimula a delação premiada e colaboração com autoridades de paraísos fiscais que antes protegiam os corruptos com o manto do sigilo bancário.
Se é verdadeiro que "a Petrobras é a madame mais honesta dos cabarés do Brasil", como disse o delator Sérgio Machado, a Lava-Jato ainda terá muitos anos de trabalho pela frente, mergulhando nas entranhas de órgãos que lidam com orçamentos bilionários, como BNDES, Dnit e Eletrobras. Sempre que se pergunta aos membros da força-tarefa até onde irá a Lava-Jato, a resposta é padrão:
– Até onde eles tiverem ido nos esquemas de corrupção.
A esta altura da investigação, é difícil compreender como foi possível roubar tanto na Petrobras e em suas subsidiárias sem despertar a atenção de quem deveria fiscalizar. Ficou evidente que os conselhos de administração foram coniventes ou atuaram como figuras decorativas e que os órgãos de controle e as auditorias internas e externas falharam de forma grotesca ao não detectar a existência de esquemas de corrupção que envolviam políticos de todos os grandes partidos e que começaram, segundo os delatores, há muitos e muitos anos.