Homem de confiança do vice-presidente Michel Temer, o demissionário ministro Eliseu Padilha não prega prego sem estopa. Sua saída da Secretaria da Aviação Civil poderia ser justificada por N problemas práticos (da retenção de recursos que impede a execução do Plano de Aviação Regional à rejeição do nome indicado por ele para a Anac), mas quem o conhece sabe que suas decisões são pautadas pela política.
Seu desembarque vale pelas palavras não ditas por Temer, por ele e pelos caciques que mandam no PMDB. Até o partido lançar o documento "Uma ponte para o futuro", produzido pela Fundação Ulysses Guimarães, da qual é presidente, em público Padilha defendia a presidente Dilma Rousseff com unhas e dentes. Se não estava sendo sincero, disfarçava muito bem. Chegou a ser cotado para o Ministério da Infraestrutura, caso tivesse prosperado a ideia de fundir Transportes, Portos e Aviação Civil.
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No início do governo, foi convidado para cuidar da articulação política, mas recusou. Disse que preferia trabalhar nos bastidores, sua especialidade desde que foi ministro dos Transportes no governo de Fernando Henrique Cardoso. Na sexta-feira, Padilha se refugiou no escritório de advocacia que divide com a mulher, Simone, e com um dos filhos, no centro de Porto Alegre, e avisou à secretária e aos assessores que não daria entrevistas. Os telefones tocaram durante toda a sexta-feira.
Os próximos dias deverão ser de linha direta com os caciques do PMDB e de dedicação à família. No dia 12, vai celebrar com os amigos o primeiro aniversário de Elena, sua filha caçula. Se parecia um corpo estranho no governo Dilma, por conta das divergências históricas com o PT, na hipótese de Temer assumir a Presidência, Padilha é pule de 10 para o ministério, forte candidato a chefe da Casa Civil. Foi o primeiro ministro do PMDB a deixar o governo, livrando-se da obrigação de defender o mandato da presidente a quem se refere sempre como "presidenta".
O próximo a sair deve ser Henrique Eduardo Alves, do Turismo, outro integrante do círculo íntimo de Temer. Na vida pública, Padilha não faz nada sem o conhecimento de Temer. O pedido de demissão leva a assinatura do ministro, mas, procurando com paciência, não será difícil encontrar digitais do vice-presidente.