O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
Faltam pouco mais de 30 dias para o primeiro turno das eleições municipais e os olhos dos mais de 8,6 milhões de gaúchos aptos a votar se voltam para o dia 6 de outubro. Ainda durante a enchente de maio foi ventilada a possibilidade de mudança da data do pleito, o que foi descartado, sendo mantido o mesmo calendário do resto do país. Mas como o Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul (TRE-RS) está se preparando para o dia do voto?
A coluna conversou com o presidente do órgão, desembargador Voltaire de Lima Moraes, sobre isso. Leia a entrevista:
Como o TRE está se preparando?
Logo que surgiu o problema das enchentes, nós fizemos uma reunião por videoconferência com as principais zonas eleitorais atingidas. Nós fomos todo o tribunal, os secretários todos, nos colocamos para lá levar a nossa solidariedade e, ao mesmo tempo, ouvi-los. Mas, antes disso, nós estabelecemos uma estratégia aqui. Ouvir todas as zonas eleitorais e os secretários das respectivas áreas e, in loco, com as suas equipes, verificar as zonas eleitorais mais atingidas. Primeiro, restabelecer a internet, restabelecer o funcionamento dessas zonas eleitorais que foram atingidas. Isso foi feito. Então, foi um trabalho gigantesco para fazer todo esse levantamento. Nós tínhamos, no início, digamos assim, uma projeção que não era muito favorável. Depois, nós tínhamos uma projeção mais favorável. E isso foi aumentando. Essa expectativa nossa, positiva, foi aumentando gradativamente. Então, hoje eu posso dizer que lá atrás, aquela posição que nós tomamos no sentido de que deveriam ser realizadas as eleições, foi algo muito acertado, acertada essa posição. Primeiro porque, se nós tivéssemos titubeado em algum momento, nós estaríamos criando um clima de não fortalecimento da reconstrução do Estado. Segundo, porque era factível nós fazermos esse enfrentamento. Então, isso foi devidamente pensado, foi devidamente questionado. E hoje, nós podemos dizer que nós temos uma convicção plena que as eleições vão ser realizadas de forma muito tranquila. Temos uma expectativa muito favorável com relação a isso.
O senhor tem um levantamento final de quantos locais foram afetados?
Os locais afetados serão realocação. Mas isso, o levantamento final, nós vamos divulgar agora no início de setembro. Ainda na primeira quinzena. Podemos dizer que que bem menos do que 10% vai ser realocado.
E seriam quais cidades?
São cidades, por exemplo, como Lajeado, Muçum, Roca Salles, Canoas, talvez em Eldorado do Sul também alguma coisa, mas não naquele percentual que inicialmente era uma ideia, era uma projeção muito incipiente na época ainda.
E essa realocação seria dentro do município mesmo?
Sim, dentro do município.
Quem ainda está abrigado fora da sua cidade, como será no dia da votação?
O que vai haver, por exemplo no dia, é o transporte público municipal. E naquele dia ele é liberado. Então, as pessoas podem se movimentar no sentido da votação. E nós estamos também pensando nas pessoas que estão em abrigos também. Fazer um movimento de atendimento. Primeiro ver onde é que elas votam e isso aí está sendo feito. Pois, nossa preocupação maior hoje é com evitar abstenção alta. Por quê? Porque uma pessoa que morava, por exemplo, em Canoas, principalmente na zona oeste, elas se mudaram. Algumas vão retornar para ali, mas se mudaram, saíram. Às vezes, da própria cidade. Ou até do próprio Estado, dependendo da situação. Então, nós vamos fazer uma campanha que vai ser desencadeada aqui, um grande evento no dia 18 de setembro, no sentido de que se faça um chamamento às pessoas para virem votar. "Por que é importante o voto?". E isso está sendo destacado em banners que nós já mandamos fazer. Eu sempre tenho salientado isso e volto a bater nessa mesma tecla, que é o seguinte, nos preocupamos sempre em escolher o melhor médico, o melhor colégio, o melhor dentista, para o filho o melhor livro, enfim, a educação adequada. E o gestor municipal pode mudar a vida de uma pessoa, de uma família, de várias pessoas. Temos que ter essa preocupação de saber escolher bem. Então esse é um ato de cidadania superior que a gente deve levar em consideração exercendo o voto que é próprio da democracia. Então é isso que queremos fazer. A nossa maior preocupação hoje até não é em si, e a realocação, porque isso nós vamos realocar as sessões eleitorais, mas é evitar a abstenção. Porque muitas pessoas que foram atingidas se mudaram de lugar, então nós estamos fazendo todo esse levantamento, inclusive verificando a situação daqueles que estão em locais que não são mais a sua casa, mas são alojamentos. Eu sei que é muito difícil, às vezes, uma pessoa que foi duramente atingida por um enchente, mostrar para ela que é importante ela votar. Deve estar irritada com essa situação toda. Não deve ter se recuperado emocionalmente. Mas eu acho que é importante despertarmos o exercício da cidadania também nessas pessoas, porque é uma forma de fazer com que elas recuperem a sua dignidade. Então nós estamos preocupados com isso também.
O Tribunal Superior Eleitoral enviou 6,5 mil urnas ao RS. Já chegaram?
Sim, já chegaram. Eu estive em Brasília recentemente em uma audiência com a ministra (Cármen Lúcia) e conversei longamente, coloquei ela à par de toda a situação, que ela sempre acompanha, mas é importante fazer uma visita também para dar as peculiaridades que nós estamos enfrentando aqui em um Estado com um dramatismo impressionante como esse, que nós fomos submetidos. E ficou muito tranquila com relação ao Rio Grande do Sul, as posições que nós temos assumido, todas as medidas que estão sendo adotadas. Então, com relação a isso, não tem problema nenhum. As urnas já chegaram e nós temos, inclusive, urnas de sobra agora, que ficam de reserva. Nós estávamos preocupados com os mesários também. Mas nós fizemos essa campanha de voluntário e hoje está tudo tranquilo com relação isso também. Não vai ter problema, temos bastante mesários voluntários, inclusive, é aquilo que, digamos assim, vai haver sobra até. Então, qual é a maior preocupação? Em primeiro lugar, evitar a abstenção. Nós já tivemos, na pandemia, 23% de abstenção. Foi o mais alto que se verificou. Então, nós queremos evitar uma abstenção alta. E, em segundo lugar, que não passa a ser uma grande preocupação, não é só porque dá trabalho, mas, um pouco, são essas realocações de sessões eleitorais. Nós temos tido um critério muito importante que vem sendo adotado. Toda vez que houver uma modificação de uma sessão eleitoral, vai ficar um aviso, a sessão era aqui, foi para tal lugar, o mais próximo possível. Para dar tranquilidade, conforto ao eleitor. Senão, o eleitor chega lá e diz, mas eu votava aqui, onde é que tu vai a minha sessão? Quer dizer, aí não dá para acontecer isso. Então, vai ter banner, vai ter uma ampla divulgação. Agora, na primeira quinzena de setembro, nós vamos ter tudo isso já devidamente registrado. Vamos fazer uma ampla divulgação, todas as realocações feitas e o número delas também.
Senhor disse que a preocupação é com a abstenção. Qual o índice que projeta para esse ano?
Gostaríamos que fosse zero. Mas isso é impossível. Eu sei que não. Mas nós queremos um número bem pequeno de abstenção. O mínimo possível. Por isso que nós estamos fazendo essas campanhas, esses movimentos todos.
O depósito no 4º Distrito onde as urnas foram danificadas, já foi acessado?
Sim. E essas urnas, elas devem ser recolhidas pelo TSE, já veio a equipe aí fazer uma análise preliminar. Então, eles estão para voltar, para fazer um encaminhamento e dar o destino final. E isso aí vai para um lugar depois que vai ser levado em consideração um exame da área, digamos assim, especializada do TSE nessa questão. De saber o que vão fazer com essas urnas depois.
Será possível recuperar?
Recuperar eu acho que não vai ser possível. Em princípio, eu acho meio difícil recuperar isso. Eles têm uma produção, inclusive, muito boa de urnas, sempre atualizadas, então não tem problema nenhum com relação a isso.
O TRE realizou uma campanha de combate à poluição ambiental. Como foi essa iniciativa com os partidos e correligionários?
Eu acho que eles estão muito conscientizados disso, posso dizer. Por quê? Porque, inclusive, foram feitas reuniões com os partidos políticos, os representantes de mais diferentes diretórios. Pode notar, por exemplo, aqui em Porto Alegre, eu tenho saído, só tem aqueles cavaletezinhos, aquelas bandeiras gigantes desapareceram. Então não tem mais (propaganda) de botar em muro, essas coisas todas que tinha antes. Outdoor, isso desapareceu.
São Paulo a campanha está bem acirrada. Há preocupação desse acirramento chegar aqui?
Eu não posso descartar, digamos assim, que vai ser 100% vai estar tranquilo. Por quê? Porque é possível que um lugar aqui ou outro, dadas as peculiaridades da região e o embate entre os candidatos, possa assumir, digamos assim, um acirramento muito forte. Mas sempre que detectamos alguma coisa, nós fazemos os devidos comunicados, inclusive as áreas de segurança, melhor dito, as forças, que seriam as forças de segurança, para que elas possam agir, inclusive, preventivamente. Isso aí nós temos um contato permanente. Inclusive, nós temos reuniões todas projetadas com toda a área de segurança para fazer os esclarecimentos devidos, aquilo que pode, aquilo que não pode, porque as nossas forças de segurança desempenham um papel fundamental. Primeiro, ela tem que se ater ao juiz da respectiva zona eleitoral e levar em consideração todas as normativas da justiça eleitoral. E para isso fizemos encontros, tentamos mostrar como isso deve ser feito, como não pode, no dia da eleição, na véspera da eleição, todos os detalhes. O que nós queremos? Eleições tranquilas, serenas, dando tratamento isonômico para partidos, para candidatos e a segurança para o eleitor. Aquilo que eu chamo de conforto para o eleitor. O eleitor tem que chegar em um lugar e não pode ser submetido, digamos, a um sacrifício para votar.
A eleição municipal, ela é mais tranquila que a nacional?
Cada uma tem as suas características. Mas, evidentemente, as eleições municipais, historicamente, elas são mais acirradas. Movimenta muito a comunidade. Fica muito envolvida a comunidade. Porque ela é muito mais próxima e as pessoas conhecem mais de perto os candidatos também. Às vezes, a eleição, por exemplo, para a presidência, para o próprio governador, a figura está bem distante. Eles conhecem por onde? Por informações da mídia. Mas, não tem aquela proximidade com o candidato. Só quando ele, eventualmente, faz um comício na sua cidade. É diferente, por exemplo, da municipal. Porque na municipal, volta e meia, a pessoa sai e encontra o candidato, ou numa esquina, num bar, ou num supermercado, ou numa quadra de esportes. É diferente. E aí, isso torna, digamos assim, às vezes, o acirramento mais forte.
Qual o resultado que o senhor quer ter no fim do dia 6 de outubro?
Eu estou muito convicto. Primeiro, porque eu penso as coisas de forma muito positiva. E procuro adotar as providências também, sempre projetando eventuais problemas que nós venhamos a ter. E tudo aquilo que eu projetei até agora, de razão de um análise que a gente fez até agora, eu estou projetando que nós tenhamos eleições tranquilas aqui no Rio Grande do Sul. Essa é a ideia. Primeiro, porque nós temos um estado que é muito politizado. Isso ajuda, digamos que as pessoas têm muita consciência cívica, a respeito, e política mesmo. De outro lado, todos os candidatos e partidos políticos sabem que quem sair fora das regras do jogo democrático, ele vai ser penalizado. Porque a justiça eleitoral vai estar muito presente e vai agir. Então, eu creio que isso, por si só, já denota, digamos assim, uma perspectiva muito alviçareira, em termos de eleições no dia 6 e nos dias subsequentes, e onde houver necessidade de se fazer segundo turno.
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