Elon Musk, dono do X, o antigo Twitter bloqueado na sexta-feira (30) pela Justiça brasileira por descumprir a lei, gosta de arvorar-se como paladino da liberdade de expressão, enquanto, na verdade, está preocupado apenas em fazer política - a seu modo, imaginando-se acima dos marcos legais dos Estados nacionais.
Acusa o ministro Alexandre de Moraes e o Planalto de censura, embora cumpra, com rigor — e principalmente em silêncio —, decisões de governos que lhe são simpáticos.
Os rompantes pela suposta liberdade de expressão que defende não são vistos em países como Turquia, Índia e Arábia Saudita - nesse último, aliás, a monarquia teocrática é uma das acionistas da plataforma.
Em 2023, o governo de Narendra Modi, na Índia, proibiu a exibição e menções na rede social de um documentário da rede BBC sobre a omissão das autoridades sobre uma revolta em Gujarat, que resultou na morte de mil muçulmanos, em 2002. O que fez Mr. Musk? Bloqueou perfis que indicavam o link do trabalho. Disse que "não poderia violar as leis do país". Tempos depois, no mesmo país que experimenta a deterioração da liberdade de expressão, acatou a ordem do governo para remover contas de jornalistas críticos ao presidente. Na Turquia de Tayyp Erdogan não é diferente.
Não soa estranho Musk fazer gritaria apenas contra governos e órgãos judiciais de blocos supranacionais ou países onde há consolidadas regras de regulação das redes sociais, como União Europeia, Reino Unido e Austrália? O Brasil engatinha para algo semelhante.
Estranho Musk não se preocupar com as mensagens de ódio, o racismo, a desinformação, a pornografia e a apologia ao nazismo que pululam sua plataforma. Não, o que ele faz não é lutar pela liberdade de expressão. É política. Má política.