Não é de hoje que Donald Trump faz comentários de cunho racista, mas, nas últimas semanas, o ex-presidente e candidato em 2024 intensificou as frases depreciativas. No debate da rede CNN, em junho, ele citou o que chamou de "black jobs" (empregos de negros), afirmando:
- Eles (os americanos) estão aceitando empregos de negros e hispânicos, e você ainda não sabe, mas verá um momento que será o pior da nossa história - disse.
Mais recentemente, ele repetiu as insinuações de que haveria "empregos de negros", ao se referir a trabalhos supostamente precários. Durante a Convenção Anual da Associação Nacional de Jornalistas Negros dos Estados Unidos (NABJ, da sigla em inglês), em Chicago, disse que os imigrantes sem documentos estão roubando "os trabalhos dos negros". Quando lhe pediram que especificasse o que seria um "trabalho de negro", Trump respondeu: "um trabalho de negro é qualquer um que tenha um trabalho".
Em seguida, passou também a questionar a identidade racial da vice e rival na eleição, Kamala Harris.
— Ela sempre foi de origem indiana, só promovia a herança indiana. Eu não sabia que ela era negra até alguns anos atrás, quando ela se tornou negra e agora quer ser conhecida como negra. Portanto, não sei se ela é indiana ou negra — disse o ex-presidente sobre Kamala, cuja mãe era indiana-americana e o pai é negro.
Para quem que acompanha a linguagem divisiva de Trump, não foi surpreendente.
As frases tem gerado indignação. Depois de fazer algumas das apresentações mais impressionantes da ginástica artística nos Jogos de Paris, Simone Biles ironizou na rede social X: "Adoro meu trabalho de negro". A frase foi acompanhada do emoji de um coração preto e da medalha de ouro.
Durante a convenção democrata nesta semana, correligionários de Kamala saíram também em desagravo. Na terça-feira (20), a ex-primeira-dama Michelle Obama afirmou:
- Durante anos, Donald Trump fez tudo ao seu alcance para tentar fazer as pessoas nos temerem. Sua visão limitada e estreita do mundo o fez se sentir ameaçado pela existência de duas pessoas trabalhadoras, altamente educadas e bem-sucedidas que por acaso são negras - disse. - Quem vai dizer a ele que o emprego que ele está procurando atualmente pode ser apenas um desses empregos para negros?
Kamala sempre se identificou como negra e foi formada por várias instituições negras, como a Universidade Howard, em Washington. Ela é filha de mãe indiana e pai negro, nascido na Jamaica. É a primeira vice-presidente da história dos EUA negra e asiática e, se eleita, será a primeira mulher negra e asiática a ocupar a presidência.
Há décadas os democratas se saem melhor entre os negros. Uma pesquisa da CBS News, por exemplo, aponta Kamala com 81% da preferência entre entre o público, contra 18% de Trump. Mas nos EUA, vale lembrar, o mais importante não é o número de eleitores que apoiam um ou outro candidato, se eles irão ou não votar no dia da eleição.