James David Vance, ou, simplesmente, J.D. Vance, como dizem os americanos, não é uma surpresa. Estava entre os três prováveis nomes que Donald Trump escolheria como vice na chapa republicana, ao lado do senador pela Flórida Marco Rubio e do governador da Dakota do Norte, Doug Burgum.
O senador por Ohio, anunciado nesta segunda-feira (15) durante a Convenção Nacional Republicana, em Milwaukee, não tem a aderência desejada junto aos eleitores hispânicos, que Rubio teria, nem a experiência no Executivo, de Burgum. Mas tem muito a oferecer ao ex-presidente - aliás, a escolha do vice, nos EUA, é decisão muito pessoal do candidato principal, e Trump, por seu estilo, faz questão de exercer esse direito como nenhum outro político. A lealdade é a principal característica do vice, na avaliação de Trump, muito mais do que eventuais interesses partidários.
Basta ver como Mike Pence, o vice de Trump no primeiro mandato, entre 2017 e 2020, caiu em desgraça entre os trumpistas ao não obedecer ao então presidente e seguir, ao contrário do que queria o chefe, com o rito democrático de confirmar o resultado da eleição, no fatídico 6 de janeiro de 2021, o dia da invasão do Capitólio. Nas redes sociais, seguidores de Trump chegaram a pedir que ele fosse enforcado.
Vance preenche o requisito da confiança e da utilidade. Comecemos pela segunda característica. O senador é jovem, tem 39 anos, serve como contradição ao próprio candidato Trump, que tem 78, e ao adversário, Joe Biden, de 81, idade que os republicanos costumam usar para acusá-lo de ser excessivamente idoso para o cargo.
Vance foi eleito por Ohio, um dos swing states (aqueles que ora votam nos democratas, ora nos republicanos). Vale lembrar aqui a máxima da política americana segundo a qual nenhum candidato chega à Casa Branca sem vencer naquele Estado. Ganhar em Ohio é fundamental!
Agora, vamos aos alinhamento com Trump. Vance é muito próximo de um dos filhos do ex-presidente, Donald Trump Jr. - e sabe-se que Trump costuma misturar o público e o privado, fazer da Casa Branca uma extensão de sua família. O senador e o filho do presidente costumam trocar mensagens diariamente.
Vance foi aos poucos se aproximando das ideias de Trump - em 2016, por exemplo, ano da eleição que o então candidato republicano derrotou Hillary Clinton, ele escreveu The Hillbilly Elegy: a memoir of a family and culture in crises (Era uma vez um sonho: a história de uma família e da cultura em crise), um livro que explica, em parte, a frustração do americano branco, classe média, com o declínio da América industrial - em última análise, aquele eleitor que, sem diploma de nível superior, foi fundamental para eleger Trump. Poucos até então haviam dado tanta ênfase ao que passou a ser chamado "Wasp", white (branco), anglo saxion (anglo-saxão), protestant (protestante), o eleitor típico de Trump.
Se faltava alguma prova da lealdade de Vance a Trump, ela veio no final de semana, após o dramático episódio do atentado contra o ex-presidente. O senador, em suas redes sociais, afirmou, pouco depois do ataque, que os tiros contra Trump eram resultado da retórica belicista dos democratas: "a premissa central da campanha de Biden é de que o presidente Donald Trump é um fascista autoritário que precisa ser parado a qualquer custo".