O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
Neste domingo (28) ocorre as eleições na Venezuela. De um lado, Nicolás Maduro tenta novamente a reeleição em um ambiente desgastado política e economicamente. De outro lado, o diplomata Edmundo González Urrutia tenta pela primeira vez chegar à presidência.
O ambiente está tenso devido à suspeitas de irregularidades e às ameaças de Maduro, caso perca a disputa. Herdeiro político de Hugo Chávez, o líder venezuelano pode, pela primeira vez, ser derrotado.
A coluna conversou com o doutor em Ciências Políticas e professor da Universidade Central da Venezuela (UCV), Carlos Romero.
Como está o clima no país? As pessoas estão ansiosas?
Primeiro, há uma grande expectativa do que pode ocorrer no domingo. Tanto as pessoas que vão votar na oposição, e particularmente no candidato com maior percentagem, que é González Urrutia, como as que vão votar ou pretendem votar no candidato Maduro. Mas há também um terceiro país, o país da abstenção, dos venezuelanos que não vão votar, porque não querem ser incluídos na política, porque estão fora do país e não puderam se registar, ou porque simplesmente não querem ir votar. Às vezes, por medo. Isso tudo cria uma grande expectativa, antes de tudo. Em segundo lugar, há muita preocupação, uma vez que o processo eleitoral pode ser alterado pela violência. Em terceiro lugar, o que todos dizem e que as pesquisas indicam é que haverá um vencedor. E nós nos perguntamos se o governo irá reconhecer a vitória de González. Esses três elementos, a meu ver, são os principais.
Como se comportam os eleitores de Maduro?
É uma mistura de coisas. Há herança do chavismo, antes de mais nada. Lembre-se que o chavismo, como processo político, tem mais de 30 anos. Em segundo lugar, pela relação utilitarista que o governo mantém com os seus apoiadores em termos de benefícios sociais. Em terceiro lugar, porque houve um alto nível de doutrinação durante todos esses anos a favor de uma forma de ver as coisas, de ver a política, muito diferente daquela da oposição venezuelana. Portanto, existem duas formas de polarização. Mas, nessas eleições, houve um fenômeno novo: muitos chavistas, muitas pessoas que votaram em Chávez ou votaram em Maduro nas eleições presidenciais anteriores, estão hoje dispostas a votar em González. Também há uma expectativa: se ficar comprovado que a oposição ganhou as eleições, o que o governo vai fazer? Irá entregar (o poder) ou irá manipular (o resultado) para conseguir uma vitória que pode ser considerada pela maioria como ilegal?
Edmundo González está mais conectado à direita ou à esquerda? Como ele se posiciona?
Ele sempre foi um homem de centro, um centro político muito próximo do Partido Socialista Cristão.
As pesquisas apontam que González vai ganhar. Se isso se efetivar, o país pode viver um "banho de sangue", como Maduro ameaçou?
Creio que não.
Por que González Urrutia tem tantos votos no país nesse momento?
Isso vem de um processo de erosão do chavismo e do madurismo diante de todos esses anos. Ou seja, para compreender o aumento da popularidade da oposição, devemos entender como o chavismo tem perdido votos ao longo de diferentes campanhas eleitorais. Aqui, estamos falando das eleições presidenciais, que foram comparadas e expressam uma redução no resultado de votação. Em segundo lugar, porque a oposição finalmente compreendeu que a melhor forma de competir com o governo é através de eleições e não por meio da abstenção. Em terceiro lugar, porque no segundo governo, Maduro tem estado muito mal. Tem sido pequeno, com muitos erros e com muita inflação e com muitos problemas salariais. Além disso, houve uma espécie de conspiração contra Maduro através do voto punitivo. Tudo isto leva a considerar que houve uma transferência da simpatia do chavismo para a simpatia pela oposição que foi herdada por Gonzáles Urrutia.
Os militares estão a favor ou contra Maduro?
Até agora, eles são a favor de Maduro. Em comparação com outras transições políticas, o fator militar foi decisivo. E se pode esperar tudo do "fator militares". Estamos diante de uma grande incerteza.
A permanência de Maduro poderia fechar mais portas para a Venezuela?
Seria, sem dúvida, muito grave para a Venezuela, porque o isolamento seria pior.
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