Cautela e canja de galinha nunca são demais quando se analisa pesquisas eleitorais. No Brasil, por certo. São retratos de momento, um recorte, que, ali à frente, pode mudar. E, não obstante, o cenário se altera. No caso dos Estados Unidos, é importante redobrar o cuidado. Cautela e canja de galinha ao quadrado. Principalmente porque lá - ironia das ironias, a mais tradicional democracia do planeta - a eleição é indireta. Quem elege, de fato, o presidente é o colégio eleitoral, formado por delegados cujo total, em cada Estado, é proporcional ao tamanho da população naquela unidade.
Daí, a importância de duas palavras: "The winner takes all" e "swing states". Parece cedo para falarmos sobre isso, uma vez que a eleição americana só ocorre daqui a quatro meses, mas esses termos são fundamentais para não cairmos em "achismos" ou interpretações precipitadas.
No processo americano, o candidato que vence em um Estado leva todos os delegados a que aquele Estado tem direito no colégio eleitoral - na tradução "the winner takes all" ("O vencedor leva tudo"). Um exemplo real: Joe Biden venceu Donald Trump na Califórnia em 2020 com 63% dos votos. Como aquele Estado tem direito a 55 delegados no colégio eleitoral, ele acumulou esse total de delegados na contagem final. O eleito, no cômputo geral, precisava atingir, no mínimo, 270 delegados. Biden conseguiu 306. Trump, 232.
Por essa idiossincrasia do processo americano, nem sempre quem ganha no voto popular, vence no colégio eleitoral: Hillary, por exemplo, ganhou 65,8 milhões de votos na contagem geral, contra 62,9 milhões de Trump. Mas o republicano foi o eleito, porque chegou a 304 delegados, contra 227 de Hillary.
Vamos à segunda expressão: "swing states". Olhe o mapa dos EUA: por tradição, os democratas costumam ganhar nas costas, Leste e Oeste; e os republicanos no interior americano. Seja quem for o candidato democrata, Kamala Harris ou outro, vai vencer na Califórnia, por exemplo. É tradição. Assim como Trump irá ganhar em Oklahoma.
Mas há regiões indefinidas. Esse é o ponto. Há Estados em que ora o vencedor é democrata, ora é repulicano. O comportamento é pendular - por isso, a expressão "Estados-pêndulos" (a tradução no Brasil para "swing states"). É nessas unidas que os candidatos vão depositar su atenção. E nós, também.
Por isso, a cautela em relação às pesquisas nacionais. O que importa é como irão votar os eleitores de um punhado de Estados destacados abaixo. Eles vão decidir o jogo.
Em tempo: só três pesquisas foram publicadas desde a desistência de Biden nos swing states: na Pensilvânia, nesta quarta-feira (24), Trump tinha 47%, conra 45% de Kamala Harris; na terça-feira (23), na Geória, Trump tinha 48% contra 47% de Kamala; e, na segunda-feira (22), na Pensilvânia, Trump tinha 51% contra 45% de Harris. O resto é especulação.