O governo brasileiro disse que espera a divulgação das atas eleitorais pela Venezuela para se manifestar a respeito do resultado da eleição que teria dado a Nicolás Maduro o terceiro mandato presidencial. Mas o que exatamente são esses documentos?
Na Venezuela, o voto é eletrônico, como no Brasil, porém, existe um registro em papel, uma espécie de comprovante. Funciona assim: após apresentar documento de identidade e ter sua digital colhida para aferição biométrica, o eleitor vai até a urna eletrônica, onde aparecem as fotos dos candidatos.
Diferentemente do nosso país, onde digita-se o número dos postulantes ou dos partidos, lá o eleitor pode clicar na tela, em cima do nome, do rosto ou da legenda de sua preferência. Curiosidade: a foto do candidato aparece várias vezes, de acordo com o número de partidos que o apoiam. No caso de Maduro, apoiado por 13 legendas, sua imagem aparecia 13 vezes. Edmundo González aparecia três vezes.
Depois que o eleitor confirma o voto, o equipamento imprime um comprovante, que deve ser depositado em uma urna convencional. O sistema eletrônico também registra o voto em uma ata, sem identificação do eleitor.
Com o encerramento do horário de votação, começa a auditoria dos votos, nos próprios centros eleitorais. As atas impressas das urnas com os votos eletrônicos e os comprovantes em papel são comparados. Essa conferência inicial é feita em 54% das urnas. Os votos de cada máquina, então, são enviados com criptografia para um sistema central.
Aqui começam as suspeitas: a oposição diz que seus observadores só puderam acessar 40% das atas. O restante não teria sido emitido, deixando a dúvida se esses 60% também foram enviados para contabilização.
A oposição também acusa a CNE de não ter publicado as atas, algo de praxe. O que aprofunda a suspeita é o fato de o órgão ter confirmado a vitória de Maduro quando os números da apuração, supostamente, já tornariam irreversível o resultado, ao se atingirem 80% da contabilização.
O resultado final teria sido 51% dos votos para Maduro contra 44% para González Urrutia. A diferença entre o número total de votos, porém, foi de cerca de 704 mil votos, o que levanta suspeitas sobre se, de fato, a virada pró-Urrutia seria irreversível.
Claro que a polêmica atual está focada na questão das atas. Mas, há tempos, o governo Maduro tenta inviabilizar a eventual vitória da oposição. Nesta eleição, o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) proibiu María Corina Machado para ocupar cargos públicos por 15 anos. A acusação: corrupção e associação com Juan Guaidó, ex-presidente da Assembleia Nacional que, em 2018, se autoproclamou presidente. A sucessora direta de Corina Machado seria Corina Yoris, mas ela também foi impedida de concorrer.
Além disso, o governo criou dificuldades para que os venezuelanos que moram fora do país pudessem votar - cerca de 5,5 milhões. Destes, apenas 69 mil estavam registrados para votar.