Em sua primeira viagem ao Rio Grande do Sul, o embaixador da Itália no Brasil, Alessandro Cortese, abordou os impasse para a concretização do acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia (UE), entre outros temas, como o início das comemorações dos 150 anos da imigração para o país, investimentos no Estado e o processo de reconhecimento da cidadania para ítalo-brasileiros.
Em entrevista à coluna, durante visita à sede da RBS, nesta terça-feira (9), o diplomata mostrou-se otimista em relação ao acordo UE-Mercosul. Disse, porém, que cada nação "tem suas exigências e prioridades - e que nem sempre são as mesmas dos europeus". Ainda assim, afirmou ser necessária a conclusão do acordo.
A seguir os principais trechos da conversa.
Sobre o acordo do Mercosul-UE, o senhor tem dito que a Itália tem algumas facilidades em relação a outros países do bloco europeu, como a França. Por que acredita que o acordo será possível?
Temos alguns problemas, assim como os outros países, porque também alguns setores da economia estão um pouco preocupados. Mas, ao final, pela minha visão pessoal, essa é uma situação de ganha-ganha. A Comissão Europeia (órgão Executivo do bloco) vai mudar completamente (a partir das eleições, entre e 6 a 9 de junho de 2024), toda a liderança europeia vai mudar. Vamos ver se vai mudar também sua postura politicamente falando. Então, teremos um novo capítulo. Com certeza, o acordo não será abandonado. Vamos trabalhar junto com os países do Mercosul, porque, naturalmente, eles têm suas exigências, suas prioridades, que nem sempre são as mesmas da Europa. Mas acho que, no final, temos de concluir (acordo).
Por que há tanta demora no processo para reconhecimento da cidadania italiana?
É um processo muito complexo, que envolve o consulado aqui, em Porto Alegre, mas que envolve muitas autoridades. É importante dizer que esse é um problema em todo o país, não é uma questão de Porto Alegre ou do Rio Grande do Sul. São Paulo é mais complicado. Tem sempre de esperar. Infelizmente, mas é inevitável. São 32 milhões potenciais de pedidos sobre os consulados. São números muito grandes, tem de ter paciência. Posso dizer que todos os consulados, incluindo o de Brasília, estão trabalhando muito fortemente. O consulado de São Paulo emitiu 33 mil passaportes no ano passado, que é o recorde. Um número importante. Estamos trabalhando todos juntos para melhorar.
Há muita expectativa sobre um voo direto entre Porto Alegre e Roma. Como está?
Isso seria muito importante. Para mim, como embaixador seria uma grande alegria. Trabalhamos sobre isso. A Ita Airways (companhia aérea italiana) triplicou os voos nos últimos seis meses. Então, tem um esforço já. Mas as companhias aéreas brasileiras podem também investir nisso.
O senhor está otimista que possa sair esse voo?
Otimista é difícil, não sei. Francamente, não sei. Temos muitas alternativas. Como eu disse, visitei muitos Estados. Quase todos os governadores pediram por um voo direto para a Itália. Então, algumas coisas vão acontecer. Certamente, o Rio Grande do Sul tem a vantagem dos ítalo-gaúchos, em grande número, e há um mercado potencial muito amplo.
Neste ano começam as celebrações dos 150 anos de imigração italiana para o Brasil. O que está sendo preparado?
É um ano muito importante. Como digo sempre: é um ano importante para o Brasil, mas é muito importante também para a Itália. Temos uma grande comunidade ítalo-brasileira. Estamos organizando muitas coisas em todo o território nacional: atividades com os consulados, mas também com as organizações de italianos. Recebi alguns convites aqui, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Vamos ter muitas atividades. Ontem (segunda-feira, 8), o governador assinou esse decreto para estabelecer uma comissão estadual para estudar como será formado um grupo de profissionais para estudarem o que fazer no Estado, particularmente no ano que vem.