Os mais atentos terão percebido. Logo após a foto oficial da recepção oferecida pelo presidente da Lituânia aos líderes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em Vilnius, nesta semana, os chefes de Estado e de governo dos 32 países membros do clube militar iniciaram esfuziantes bate-papos informais entre si. O francês Emmanuel Macron virou-se para sua direita e engatou uma conversa com a esposa, Brigite. Cada um foi dando um jeito de se entrosar. Mas Volodimir Zelensky, em seu traje militar entre os engravatados líderes ocidentais, ficou parado, sem encontrar alguém para dialogar.
O flagrante ilustra a solidão do líder ucraniano, barrado no baile da Otan.
Nas conversas durante os dois dois dias da reunião de cúpula, Zelensky voltou a pedir um plano ou cronograma para o ingresso de seu país na organização. Mas saiu de mãos vazias.
Enquanto isso, viu a Turquia retirar o veto à entrada da Suécia na organização militar, colocando o país nórdico a um passo do ingresso, junto com a Finlândia.
Zelensky é cozinhado em banho maria pelos chefes da Otan. Desde o início da guerra na Ucrânia, recebe promessas de apoio mas, quando reclama da falta de um plano efetivo para adesão ao grupo, ganha apenas intenções. No máximo a lembrança de que um grupo de contato entre seu país e a Otan foi criado para conversas sobre o tema e que um instrumento que normalmente leva anos para analisar o ingresso de um novo integrante fora retirado.
Armas, sim. Aceite na Otan, não.
A crise na Ucrânia testa os limites da organização atlântica criada durante a Guerra Fria e que acabou se espraiando, nas últimas décadas, até as franjas da Rússia. A cúpula da Lituânia evidenciou o cansaço do Ocidente com o conflito atual e expressando pouca paciência para com Zelensky. Essa fadiga ficou clara na frase emblemática do ministro da Defesa do Reino Unido, Ben Wallace.
- Não somos a Amazon - vociferou, ao lembrar a lista de encomendas de armas feitas pelo governo de Zelensky quando visitou Kiev.
Se o representante de um dos países que mais ajudaram a Ucrânia na guerra pensa assim, imagine os demais membros da Otan, que estão sacrificando seus estoques de armas e elevando orçamentos de Defesa por causa do conflito.
Nunca é uma palavra forte demais para se usar nas relações internacionais - afinal, toneladas de tinta foram gastas em pesquisas durante a Guerra Fria e o conflito que opôs os blocos ocidental e oriental acabou da noite para o dia. Mas é muito pouco provável que a Ucrânia entre na Otan, motivo alegado por Vladimir Putin para a invasão iniciada em fevereiro do ano passado. Primeiro porque há um impeditivo legal: o estatuto da aliança atlântica veta a adesão de nações envolvidas em confrontos armados. Se Putin mantiver tropas no Donbass ou na Crimeia já basta para a continuidade de um conflito de baixa intensidade, suficiente para manter a Otan afastada. Segundo porque, se aceitar o ingresso da Ucrânia, o Ocidente estará, na prática, declarando guerra à Rússia - e teremos a Terceira Guerra Mundial.