Sentado em frente a um telão na sede do Comando Militar do Sul (CMS), em Porto Alegre, o general Hertz Pires do Nascimento contabiliza os números do trabalho nas fronteiras de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná: 5,4 toneladas de drogas, 43,2 toneladas de produtos agropecuários ilegais, 12 veículos e seis embarcações apreendidas.
É tarde de terça-feira (11), 11º dia de operação Ágata Sul. Somadas, as apreensões impuseram um prejuízo de R$ 12 milhões ao crime organizado, calcula o militar.
Em frente à sala onde o novo comandante militar do Sul recebe a coluna para repassar os resultados do esforço da tropa, dezenas de praças e oficiais operam computadores, rádios e mapas dos três Estados, pontuando áreas de atuação no Centro de Coordenação de Operações do CMS, onde está instalado o Comando Conjunto Sul, responsável por receber e coordenar todas as ações em tempo real.
Apesar de estarmos no QG do CMS, no Centro Histórico da Capital, que concentra o comando da Ágata, o general Hertz faz questão de salientar a cooperação com as demais Forças Armadas e com órgãos federais, estaduais e municipais, como as polícias militares e civis, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Receita Federal e secretarias de Agricultura dos três Estados e a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), entre outros. Neste ano, também participam os exércitos de Paraguai e Uruguai.
- É cooperação. Não é subordinação. Aqui, o importante é a mistura de uniformes - destaca Hertz em quase duas horas de conversa, a primeira com a coluna desde que assumiu o comando, em abril.
Um dos episódios que acabou ganhando visibilidade nos primeiros dias da operação foi o pouso seguido de incêndio de uma aeronave suspeita que foi interceptada por aviões da Força Aérea Brasileira (FAB). O equipamento de pequeno porte, um monomotor Piper PA-28, entrou no espaço aéreo brasileiro sem autorização e plano de voo no dia 4. Os pilotos da FAB acompanharam a aeronave suspeita. Após aterrissagem em uma pista de Tuneiras do Oeste (Paraná), o suspeito que comandava o avião colocou fogo no equipamento e fugiu antes da chegada dos policiais, possivelmente porque transportava drogas.
Em 11 dias de operação conjunta, o trabalho de cerca de 4 mil militares e agentes federais e estaduais tem combatido ilícitos transfronteiriços e ambientais em toda a faixa de fronteira terrestre e marítima da região Sul, com inspeções em cascos de navios, em carros e caminhões, por exemplo. Além de drogas, são procuradas armas, munições e produtos como redes de pesca.
O general pontua que até o trabalho entre cães adestrados é conjunto, com destaque para batalhões e agências federais que contam como o apoio desses animais na realização de inspeções. Eles aceleram as buscas por entorpecentes em veículos, por exemplo, evitando que longas filas se formem nas estradas.
A Ágata é a maior ação do ano de combate a delitos transfronteiriços. Os trabalhos começaram no sábado (1º) e seguirão pelos próximos dias.
Um profundo conhecedor do RS
Aos 60 anos, o general Hertz, apesar de ter nascido no Rio de Janeiro e ter servido nos últimos anos em Brasília, onde era vice-chefe do Estado-Maior do Exército, conhece o Rio Grande do Sul mais do que muitos gaúchos. Ele comandou a 3ª Divisão de Exército, em Santa Maria, o 7º Regimento de Cavalaria Mecanizado, de Santana do Livramento, um sonho desde os tempos de aspirante, e a 3ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, em Bagé. É um apaixonado por blindados.
Em abril, ele assumiu o CMS, substituindo o general Fernando José Sant'Ana Soares e Silva, que passou a ser o chefe do Estado-Maior do Exército, o segundo posto mais importante depois do comandante da força, no lugar do gaúcho Valério Stumpf, que foi para a reserva.
- Minha prioridade é a prontidão da tropa - defende Hertz.
O novo comandante fala com entusiasmo sobre uma série de equipamentos que o Exército vem buscando modernizar, algo que deve movimentar a base industrial de defesa. Para o general, previsibilidade é a palavra de ordem quando fala em produção de material bélico para a defesa do país.
Obras no RS
Duas das três mais importantes obras de engenharia do Exército estão hoje localizadas no Rio Grande do Sul: a duplicação da BR-116 no trecho Sul e a construção da barragem de Bagé.
O Exército pretende entregar mais nove quilômetros de rodovia duplicada, nos lotes 1 e 2, entre Guaíba e Tapes, até dezembro. A previsão de término da parte que cabe à força é 2024.
O outro trabalho de fôlego é a construção da nova barragem no sul do Estado, que promete acabar com o desabastecimento em Bagé e arredores. A obra foi iniciada em 2011 e acabou embargada dois anos depois. O problema se estendeu até 2022. O Exército só assumiu os trabalhos em abril. A previsão de término é março de 2026.
A terceira obra de engenharia do Exército é a ampliação do Aeroporto Regional de Dourados (MS).