Segundo a consultoria Austin Rating, o Brasil foi o quarto país que mais cresceu no trimestre, se tomarmos as nações que divulgaram, até agora, o desempenho de seu Produto Interno Bruto (PIB). O Brasil compartilha a posição no ranking com a Tailândia. Ficamos atrás apenas de Hong Kong, Polônia e China, e à frente de Portugal, Croácia e Colômbia, Estados Unidos, Filipinas, México e Malásia (veja a lista mais baixo).
Há um ponto fora da curva: o desempenho polonês, que surpreende.
Vizinha da Ucrânia, a Polônia foi o primeiro país a sofrer diretamente os impactos da guerra que se estende na região há mais de um ano. Sua população aumentou exponencialmente em semanas em fevereiro e março do ano passado devido à onda de refugiados que fugiam do conflito ali do lado. Nos meses seguintes, a Polônia, integrante da Otan, ficou exposta ao risco de um ataque russo que, certamente, levaria ao transbordamento da guerra para além das fronteiras ucranianas. Mísseis de Vladimir Putin, de fato, chegaram a cair muito próximo a seu território.
Some-se a isso a decisão do governo polonês de aumentar os gastos em defesa, comprometendo, a partir deste ano, 3% do PIB (antes era 2%, em observância à recomendação da Otan). O país, que guarda resquícios cada vez menos visíveis da antiga Cortina de Ferro, integra a União Europeia, mas não faz parte da zona do euro, adotando ainda a sua moeda nacional, o złoty.
Mesmo assim, a Polônia cresceu 3,8% entre janeiro e março, ficando à frente do gigante chinês (2,2%). Como?
Parte da resposta deve-se ao fato de, apesar da guerra, a economia polonesa ter conseguido manter sua recuperação após o clímax da pandemia de covid-19. A indústria e as exportações tiveram bom desempenho nesse ambiente. Paralelamente, a inflação, um dos principais problemas globais, diminuiu.
Ainda observando o índice da Austin Rating, percebe-se que, na zona do euro, apenas Portugal e Croácia se destacam entre os 10 primeiros colocados. Os países da região que adotam a moeda única tiveram o menor crescimento médio no primeiro trimestre do ano (0,1%). A Alemanha recentemente confirmou que está em recessão técnica. O Reino Unido escapou até agora, mas seu PIB vem crescendo a uma taxa de apenas 0,1% nos últimos dois trimestres consecutivos.
Na América Latina, além do Brasil, Colômbia e México aparecem entre os 10 primeiros.
Um olhar político sobre esses governos dizem muito pouco sobre o desempenho do PIB: Hong Kong caminha para ser anexada completamente por Pequim e, dia após dia, perde autonomia. A Polônia é governada por Andrzej Duda, apoiado pelo partido de extrema direita Lei e Justiça (PiS), conhecido pela agenda iliberal. A China comunista centraliza cada vez mais poder em torno de Xi Jinping.
No Brasil, economistas avaliam que o bom resultado ainda não é reflexo do governo Lula.
Na Tailândia, que compartilha com o Brasil o quarto lugar, partidos de centro esquerda venceram as recentes eleições, derrotando o governo apoiado pelos militares no poder desde o golpe de 2014.
Portugal, assim como o Brasil, é governada pela centro esquerda, mesmo caso da Colômbia, onde Gustavo Petro venceu no ano passado.
O desempenho dos EUA, em sétimo lugar, deixou a desejar: cresceu 1,3%. O fantasma da recessão ainda este ano não foi afastado.
Na economia globalizada, em uma Europa ainda em guerra e com o mundo se recuperando dos efeitos da covid-19 em diferentes velocidades, vale comemorar o PIB brasileiro, mas é importante não tirar os olhos dos demais países.
As economias que mais cresceram no trimestre
1 - Hong Kong: 5,3%
2 - Polônia: 3,8%
3 - China: 2,2%
4 - BRASIL e Tailândia: 1,9%
5 - Portugal: 1,6%
6 - Croácia e Colômbia: 1,4%
7 - EUA: 1,3%
8 - Filipinas: 1,1%
9 - México: 1%
10 - Malásia: 0,9%
Fonte: Austin Rating