Cristiano Zanin, cuja indicação para o Supremo Tribunal Federal (STF) foi confirmada nesta quinta-feira (1º) por Lula, pode ter notório saber jurídico, reputação ilibada e, obviamente, mais de 35 anos (tem 47). Mas possui um vício de origem: foi advogado do hoje presidente em um dos momentos mais dramáticos de sua trajetória política, a prisão em Curitiba, no âmbito da Lava-Jato, condição que evoluiu para uma amizade entre os dois.
Em um momento em que as feridas na sociedade brasileira ainda estão abertas pelo traumático processo eleitoral e os ataques do dia 8 de janeiro, em que há desconfiança de parte da população em relação às instituições e em que a imagem de independência do Supremo é questionada por discursos de viés golpista, a indicação de Zanin não é boa para o Brasil. Macula a credibilidade da mais alta corte de Justiça do país porque viola o caro princípio da impessoalidade.
Lula, que na campanha eleitoral prometeu não querer amigos em nenhuma instituição, premia Zanin com a vaga deixada aberta com a saída de Ricardo Lewandowski, quase como uma retribuição por sua atuação profissional que, em última análise, o retirou do cárcere.
O atual presidente comete o mesmo erro do antecessor, Jair Bolsonaro, que misturava o público com o privado.
Ao Supremo cabe a garantia da Constituição: precisa não apenas ser, mas também parecer independente e capaz de atuar só (e somente só) de acordo com a lei. Não deveria ser uma instituição na qual ingressam apenas os amigos ou os que pensam segundo os preceitos do rei.