Durante quatro anos, o Brasil teve um presidente, Jair Bolsonaro, que desrespeitou a imprensa e atiçou seus seguidores mais radicais a atacarem jornalistas profissionais país afora. Empossado, Lula prometeu, em pelo menos dois cafés da manhã com representantes da mídia, dois quais participei, uma "relação diferente" com repórteres, colunistas, fotógrafos e cinegrafistas.
É do jogo político a crítica e o contraditório, e, da natureza da democracia, a tensão entre imprensa e poder. Assim como é fundamental o respeito e transparência.
Essa postura não pode ficar encapsulada a um desejo do presidente. Precisa ser assumida por todos aqueles que representam o poder - dos ministros palacianos, aos assessores e seguranças.
O episódio de agressão aos três colegas jornalistas, entre eles a decana da cobertura política em Brasília, Delis Ortiz, da TV Globo, Sergio Roxo, de O Globo, e Sofia Aguiar, da Agência Estado, na terça-feira (30), no Itamaraty, é inadmissível - sejam os responsáveis agentes do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) ou seguranças venezuelanos, capangas de Nicolás Maduro.
Exige-se uma investigação séria do que ocorreu. Não apenas para que os executores sejam identificados e punidos, mas, principalmente, para que fique claro à sociedade brasileira e à comunidade internacional que, no Brasil, ao contrário da Venezuela, vive-se sob o império da lei.
Esse esclarecimento é ainda mais necessário depois que as lentes globais registraram o tapete vermelho que Lula estendeu a Maduro, na recepção em Brasília, e das declarações que passaram pano no mais bem-acabado exemplo de ditadura latino americana. Liberdade de imprensa e respeito ao trabalho dos jornalistas são valores indissociáveis da democracia.
Depois do papelão de receber Maduro com pompa e circunstância, o governo tem, no lamentável episódio do Itamaraty, a obrigação de mostrar que o Brasil não é a Venezuela.