Se fosse grato, Sergio Massa, ministro da Fazenda argentino e pré-candidato à Casa Rosada nas eleições de outubro, teria esperado o presidente Alberto Fernández ao pé da escada do avião, no desembarque em Buenos Aires. Na mala, ao retornar de Brasília, o chefe trouxe muitos presentes de Lula. São cerca de 90 ações entre Brasil e Argentina no relançamento da chamada Parceria Estratégica. De todas, uma, em especial, pode ajudar na tentativa de eleição de Massa, em outubro (ou novembro, em segundo turno): a garantia do Planalto da criação de uma linha de crédito para fomentar exportações brasileiras para o país vizinho. A iniciativa, na visão de Lula e Fernández, pode ajudar a retirar o país do alçapão que existe no fundo do poço e no qual os hermanos estão metidos.
Em maio, quando esteve em Brasília, Massa não teve o mesmo sucesso. Saiu de bolsos vazios porque Lula teria sido aconselhado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a não acenar com a linha de crédito. O "não" teria irritado o argentino, que, desta vez, decidira não acompanhar Fernández ao Brasil. À distância, viu o presidente obter outra garantia: a de que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) irá financiar o gasoduto Presidente Kirchner. Mais um regalo: o apoio do Brasil ao "legítimo direito" da Argentina sobre as Malvinas na disputa com o Reino Unido. É algo simbólico, mas, se há um tema capaz de unir direita e esquerda (e seus extremos) na Argentina, é a questão das ilhas.
Massa, o novo homem forte da Economia argentina, foi ungido opção de "união nacional" pelo peronismo depois que outros nomes foram abrindo mão da candidatura - entre eles, o embaixador no Brasil Daniel Scioli. Fernández e a vice, Cristina Kirchner, com a rejeições em alta, não irão concorrer. Na oposição, o ex-presidente Mauricio Macri, também não - o candidato sairá da disputa entre Horácio Larreta, prefeito de Buenos Aires, e Patricia Bullrich, ex-ministra da Segurança. No caso de Massa, a ser feita é: como o ministro da Fazenda defenderá sua candidatura em um país no qual a inflação chegará a 140% ao ano. Os presentes brasileiros talvez ajudem.