Obviamente, ninguém mais olha para os céus dos Estados Unidos da mesma forma que antes da manhã de 11 de setembro de 2021, quando quatro jatos de passageiros foram usados como mísseis para praticar os maiores atentados terroristas da História. O trauma, o medo. Esses são o primeiro impacto dos objetos voadores abatidos nos últimos dias no espaço aéreo americano. Os equipamentos, voando ao léu, colocando em risco a aviação civil e, quem sabe, captando dados ultrassecretos de defesa americano, trazem ao imaginário da nação um peso simbólico, a sensação de um país vulnerável. A ameaça à fortaleza americana, de novo, vem do céu.
O Comando de Defesa Aeroespacial da América do Norte (Norad, na sigla em inglês), compartilhado por Estados Unidos e Canadá, está em alerta máximo. Os caças americanos já explodiram quatro objetos em 10 dias. O primeiro foi o balão chinês (reconhecido por Pequim), abatido na costa da Carolina do Sul na semana passada. Na sexta-feira, um objeto voador do tamanho de um carro pequeno foi derrubado por dois caças no Alasca. No Canadá, um objeto cilíndrico também de origem não identificada foi derrubado em uma ação dos EUA operando sob as ordens conjuntas do primeiro-ministro canadense Justin Trudeau e Biden disparou um míssil que derrubou um objeto voando sobre o centro de Yukon, no extremo norte do Canadá. Outro, de formato octogonal, foi derrubado por um míssil em um lago na fronteira dos EUA com o Canadá. Não representava risco militar, segundo o Pentágono, mas teria sido captado em Montana, base de silos de mísseis intercontinentais dos EUA e outros locais sensíveis.
Por aqui, em Washington, ninguém, nem Casa Branca nem Pentágono nem FBI, expressam-se publicamente sobre o que exatamente está ocorrendo. O tema é tratado em altíssimo nível militar e entre as agências de inteligência dos EUA. Do ponto de vista político, os impactos já são imediatos: os republicanos estão usando os episódios para questionar a liderança do presidente Joe Biden, que preferiria estar tendo uma noite tranquila assistindo à final do Super Bowl, no domingo, do que derrubando OVNIS.
Além da ideia de os Estados Unidos vulneráveis, como em 11 de Setembro, a crise dos balões exibe um Biden lento na reação há pouco mais de um ano das eleições presidenciais - em que a segurança dos EUA sempre são um tema predominante. Além disso, a se confirmar a origem chinesa dos artefatos, esses episódios inauguram um novo tipo de tática na nova Guerra Fria do século 21 (o uso de balões para provocar o adversário). Ironicamente, já usado no confronto geopolítico entre 1945 e 1989 e com um artefato da primeira, os balõe, criados na primeira metade do século 19.