Muito ainda será dito sobre os erros nas pesquisas no primeiro turno da eleição brasileira, que ou foram incapazes de detectar a preferência por candidatos bolsonaristas nos Estados ou superestimaram a vantagem de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Jair Bolsonaro (PL). No caso da eleição para governador do Rio Grande do Sul, os institutos apontavam segundo turno entre Eduardo Leite (PSDB) e Onyx Lorenzoni (PL) com primeiro lugar para o tucano.
O resultado das urnas não apenas foi o inverso do estimado como o ex-governador por pouco não ficou de fora do segundo turno. Os levantamentos não captaram o grande apoio a Edegar Pretto (PT). Na disputa para o Senado, o erro foi ainda mais grotesco: institutos apontavam ampla vitória do ex-governador Olívio Dutra (PT), mas o eleito para a vaga gaúcha foi o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos).
Na eleição nacional, a diferença entre Lula e Bolsonaro chegou a ser de 13 pontos percentuais a favor do petista, conforme alguns institutos, que aventaram, inclusive, vitória do ex-presidente no primeiro turno. A realidade das urnas revelou diferença bem mais apertada: 4,75 pontos percentuais (48,17% a 43,42% a favor de Lula, com 98,86% das urnas apuradas).
Tanto em nível nacional quanto estadual, os erros das empresas de opinião pública emulam equívocos já detectados nas duas últimas eleições nos Estados Unidos - na última, em 2020, que levou Joe Biden à presidência sobre Donald Trump, e na anterior, em 2016, em que o republicano derrotou Hillary Clinton. Na mais recente disputa, os institutos acertaram que o democrata seria eleito, mas superestimaram a vitória: exageraram em 3,9 pontos percentuais a margem entre os dois postulantes no voto popular nacional e 4,3 pontos nas pesquisas estaduais, para o Colégio Eleitoral, conforme um estudo da American Association for Public Opinion Research (AAPOR), que reuniu 19 pesquisadores a fim de analisar o que deu errado. O cenário mais favorável a Biden do que a realidade mostraria se repetiu em alguns Estados americanos.
No pleito de 2016, os erros haviam sido mais grotescos - apontaram a vitória de Hillary sobre Trump. Ainda que a democrata tenha ganho no voto popular (e perdido no Colégio Eleitoral), apenas um instituto detectou a vantagem do republicano.
Matemáticos, estatísticos e outros pesquisadores se debruçaram sobre o problema, enquanto os institutos de pesquisa sentaram no divã. No caso da vitória de Trump, em 2016, detectaram que o problema foi de amostragem - o grosso do eleitor trumpista, formado por pessoas brancas sem Ensino Superior, foi sub-representado. No caso de 2020, a origem dos erros metodológicos é ainda fator de discussão quase dois anos depois do pleito - e não há consenso, mas a explicação passa, em boa parte, por um fenômeno que também irmana americanos e brasileiros: a diminuição da confiança nas instituições, entre elas as empresas de opinião pública. Uma das hipóteses é de que eleitores republicanos que aceitaram responder às pesquisas tiveram opções eleitorais diferentes daqueles que se negaram a responder.
No caso brasileiro, as explicações podem passar pelo eleitor que esconde o voto ou mente ao responder aos pesquisadores, por erro de amostragem ou por boicote de parte do eleitorado pró-Bolsonaro e seus representantes. Também por aqui os institutos terão de sentar no divã.