A Inglaterra já foi uma República. Foi um período curto, entre 1642 e 1689 - entre guerras civis britânicas, entre o parlamento e o monarca absolutista que tiveram como protagonistas, ironicamente, antecessores de Charles III: Charles I e Charles II.
A Revolução Gloriosa impôs limites ao rei e, desde então, a monarquia britânica é constitucional. Mas os ecos do republicanismo volta e meia aparecem interna e externamente. Foi assim em maio, quando a realeza se preparava para comemorar o Jubileu de Platina de Elizabeth II. À época, ganhou força slogan "Faça de Elizabeth a última" sobre as fotos dos príncipes Charles, Andrew e William.
Não é diferente agora, com a transição na Casa de Windsor. Cresceu o barulho provocado pelos defensores da República (o principal grupo chama-se Republic), por meio da hashtag "NotMyKing", nas redes sociais, que aproveitam cada ato de Charles, agora rei, para reverberar sua suposta ojeriza aos súditos - ou, no caso dos vídeos com flagrantes, subalternos.
Um deles, no final de semana, captou o momento em que Charles sentaria para pronunciar o discurso diante do Conselho de Ascensão. Resmungando, ele faz sinal com as mãos para que as peças fossem retiradas da peças sobre a mesa, fazendo apenas menção de que ele mesmo as afastaria - mas, no entender dos críticos, seria demais para alguém que passou 73 anos sendo servido.
As mensagens críticas a Charles III aumentaram após esse gesto, elevando a hashtag "NotMyKing" a trending topics no Twitter. Mas a curto prazo, o fim da monarquia é algo que não tem força nas ruas. Pesquisas mostram que Elizabeth era aprovada por 81% dos britânicos, enquanto Charles, ainda príncipe, tinha 54%. Seu filho e futuro rei, William, tinha 75%; Segundo Ipsos, o sistema é defendido por 68% dos britânicos.
Detalhe: a família real britânica custa 100 milhões de libras anuais (o equivalente a R$ 597 milhões), em um país onde a vida diária está cada vez mais difícil por conta de inflação e crise energética.
Mesmo assim, resumindo: o Reino Unido até pode se tornar uma República, como nos tempos de Charles I, mas não será agora.
Fora do Reino Unido, na Commonwealth (comunidade das nações, em especial nos 14 países que têm o rei britânico como chefe de Estado), esse debate está mais avançado. No Caribe, territórios que mais sofreram com o legado colonial e a escravidão, Antígua e Barbuda, Belize e Jamaica podem declarar a independência em relação à monarquia nos próximos anos. Barbados fez isso no ano passado.
Na Austrália e na Nova Zelândia, as joias do antigo maior império do mundo, isso é mais difícil. Os governos tergiversam, mas, desde a morte de Elizabeth, ao menos admitem. Tanto Anthony Albanese, premier da Austrália, quanto Jacinda Ardern, da Nova Zelândia, deixaram claro que esse deve ser o caminho nos próximos anos.