O conflito iniciado em 24 de fevereiro, com a invasão da Ucrânia pela Rússia, completa meio ano nesta quarta-feira (24), sem perspectiva de que os dois lados alcancem o cessar-fogo. Parte de uma disputa geopolítica maior (entre a Rússia e o Ocidente), a guerra destruiu parte do território ucraniano, provocou êxodo em massa de populações e desequilibrou a balança de poder na Europa. Nesta quarta, o país também lembra os 31 anos da independência em relação à antiga União Soviética.
A coluna separou seis pontos atuais desses seis meses de conflito.
1 Deslocamento do front
A guerra começou com bombardeios pesados por parte dos russos nas principais metrópoles ucranianas, entre elas Kiev. Diante da resistência acima do esperado na capital, o Kremlin decidiu recuar as tropas para concentrar os esforços no leste do país, onde estão localizadas as províncias separatistas, Donetsk e Luhansk. Ali foram travadas as batalhas mais sangrentas do conflito. Mas, nas últimas semanas, o foco das atenções começa a se deslocar do Leste para o Sul. A Ucrânia aplicou pelo menos três grandes golpes nas estruturas russas na Crimeia, península ocupada pelo Kremlin em 2014 e onde o poder russo estava consolidado. É cedo para dizer que a Ucrânia está virando o jogo - afinal, cerca de 20% do território ucraniano está em poder dos russos. Mas as ações, que destruíram duas bases aéreas e um depósito de armas, mostram que o conflito não está perdido para o país atacado.
2 Ataques à Rússia
Além dos ataques na Crimeia, a Rússia sofreu um outro golpe. No sábado (20), um atentado nos arredores de Moscou matou Daria Dugina, filha de Aleksandr Dugin, conhecido como ideólogo do presidente russo, Vladimir Putin. O carro onde ela estava foi explodido de forma remota. Os serviços de inteligência russo apontaram o dedo para uma mulher ucraniana que teria ingressado no país nos últimos dias. Mais uma indicação de um ato de sabotagem, embora a Ucrânia não admita ter praticado a ação.
3 Número de mortos na guerra
Essa é uma das questões mais difíceis de ser precisada no conflito atual - pela propaganda e desinformação de ambos os lados, que maximizam ou minimizam as estatísticas, conforme seus interesses. Na segunda-feira (22), a Ucrânia admitiu que pelo menos 9 mil soldados do país morreram desde 24 de fevereiro. A Rússia não divulga o número de baixas, mas a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) estima em pelo menos 15 mil. Três brasileiros morreram no conflito até agora (os gaúchos André Hack Bahi e Douglas Búrigo e a paulista Talita do Valle, que lutavam pelo lado ucraniano). O número de mortos civis é impreciso.
4 Cessar-fogo distante
Na segunda-feira (22), o embaixador da Rússia na Organização das Nações Unidas (ONU), Gennadi Gatilov, afirmou que não enxerga uma solução para a guerra na Ucrânia e que estima que o conflito seja ainda mais longo.
- Quanto mais o conflito durar, mais difícil será encontrar uma saída diplomática - disse o russo ao jornal Financial Times.
ONU e Turquia têm buscado desempenhar o papel de mediadores, mas não há perspectiva para cessar-fogo. As negociações nesse sentido estão suspensas desde abril. O único avanço diplomático, que deve ser comemorado, foi o acerto entre Rússia e Ucrânia, com mediação de Turquia e ONU, que possibilitou desbloquear portos ucranianos e retomar a exportação e grãos para o mundo.
5 Suspeitas de crimes de guerra
O mundo se horrorizou quando o recuo das tropas russas exibiu corpos de civis pelas ruas de Bucha, nos arredores de Kiev. Essa é uma das suspeitas de crimes de guerra que pesam sobre o governo Putin. Também há indícios de que as tropas russas não permitiram a fuga de civis de cidades como Mariupol, o que também viola as Convenções de Genebra sobre prática de guerra. Nos últimos dias, essas suspeitas de crimes de guerra surgiram também no complexo de Olenivka, onde um armazém no qual estavam 200 prisioneiros de guerra ucranianos pegou fogo. Cinquenta morreram e outros 75 ficaram feridos. Os dois lados se acusam mutuamente pelo episódio. A Rússia permitiu o acesso de observadores da ONU ao local para investigação. A equipe será liderada pelo general gaúcho Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-comandante da missão de paz da entidade no Haiti e na República Democrática do Congo.
6 Risco nuclear
Nos primeiros dias de guerra, o mundo ficou preocupado com o risco de uma explosão nuclear na usina de Zaporizhia, localizada no centro-sul da Ucrânia e maior estrutura atômica da Europa. A Rússia tomou a estrutura logo nas primeiras semanas, mas as operações seguiram nas mãos dos funcionários ucranianos. Agora, o risco de um incidente que provoque vazamento de material nuclear voltou, uma vez que há bombardeios nos arredores - os dois lados trocam acusações sobre a responsabilidade dos ataques. A Rússia informou ainda que pretende fechar a usina, o que poderia gerar um desastre - o colapso no fornecimento de energia interromperia o resfriamento da água das barras de combustíveis do local. Sem energia de rede, geradores a diesel de reserva entrariam em ação. Se eles falharem, há uma situação "mais séria", segundo a Energoatom, empresa de energia nuclear estatal ucraniana. A ONU pede acesso de seus observadores aos prédios.