Ao invadir a Ucrânia, em 24 de fevereiro, o presidente russo, Vladimir Putin, embaralhou o sistema de segurança europeu e colocou de cabeça para baixo arranjos que garantiram a estabilidade do continente nas últimas décadas. O Kremlin chegou perto demais da Europa - simbolicamente e praticamente, inclusive com mísseis russos caindo a 25 quilômetros da fronteira da Polônia, um país da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Essa ameaça representada por Putin não só fez com que líderes de países que já são membros da aliança militar aumentarem seus orçamentos militares como tem levado nações de fora da Otan a repensar decisões históricas em termos de segurança. É o caso da Finlândia, que, nesta quinta-feira (12), confirmou sua intenção de aderir "sem demora" ao clube militar.
Por quê? Simplesmente por medo. A Finlândia compartilha com a Rússia 1,3 mil quilômetros de fronteira terrestre. Se Putin fez o que fez na Ucrânia, o que o impediria de fazê-lo na Finlândia?
O ingresso na Otan garante ao país escandinavo a proteção do artigo 5º, segundo o qual um ataque externo contra um membro é um ataque contra todos. Isso significa que, pelo princípio de defesa coletiva, caso sofra uma agressão, ela poderá contar com ajuda militar do bloco liderado pelos Estados Unidos. Finlândia e URSS já guerrearam entre si. A URSS atacou a Finlândia, bombardeando a capital, Helsinque, em 30 de novembro de 1939, três meses após o início da grande guerra. O conflito ficou conhecido como Guerra de Inverno. À época, a URSS de Stalin queria garantias de que a Finlândia não faria um acordo com a Alemanha nazista. As garantias de neutralidade finlandesas não eram suficientes para o Kremlin. Por isso, a URSS decidiu tomar a dianteira e invadir o país vizinho. Os finlandeses conseguiram evitar a anexação pelos soviéticos, mas perderam 10% de seu território.
A Suécia, que não faz fronteira com a Rússia, mas também fica na Escandinávia (ou seja, é muito próxima do país de Putin), deve seguir os mesmos passos.
Os dois países adotam, historicamente, postura de neutralidade - no caso sueco, são mais de 200 anos nessa condição. Já a Finlândia tem, inclusive, um acordo de cooperação e assistência mútua com a Rússia, parecido com o que determina o artigo 5º da Otan, desde os anos 1950. Por isso, a adesão é vista por Putin como muito grave, uma traição até.
Dificilmente, esse efeito colateral da guerra na Ucrânia estava nos cálculos de Putin quando ele decidiu atacar o país vizinho. Afinal, ele achou que, ao iniciar a guerra, bloquearia a expansão da Otan. Até pode ter conseguido no caso da Ucrânia, mas, no caso de outras nações, está ocorrendo o contrário.
A Rússia de Putin, com sua guerra, conseguiu militarizar dois dos países mais pacíficos do mundo.