É impossível garantir se Vladimir Putin irá usar o Dia da Vitória, nesta segunda-feira (9), data que marca a rendição da Alemanha nazista para os soviéticos na Segunda Guerra Mundial, para comemorar o suposto triunfo de sua aventura na Ucrânia.
Como já comentei neste espaço, razões ele tem pra isso: o desgaste das tropas russas no front, a baixa moral dos soldados com uma missão que era esperada como breve, as baixas, tudo isso pode se converter, na fantasiosa narrativa criada pelo Kremlin em um discurso na Praça Vermelha que proclame uma "vitória", como a garantia de que a Ucrânia não ingressará na Otan, a "desnazificação" do país e a proteção dos russos étnicos do Donbass, assim como a autonomia das duas repúblicas separatistas, Donetsk e Luhansk.
Mas, independentemente do que Putin disser durante o majestoso desfile militar carregado de simbolismos, uma aposta é quase certa: o próximo alvo da ambição do autocrata do Kremlin, em sua obsessão por redesenhar as fronteiras da Europa, está escolhido: será, cedo ou tarde, a Moldávia (ou Moldova). O país de 2,6 milhões de habitantes, um dos mais pobres do continente, guarda todas as características que fizeram da Geórgia, em 2008, e da Ucrânia em 2014 e 2022, palcos de guerra. Assim como esses dois países, a Moldávia flerta com a União Europeia (UE). Mais do que isso, também a Moldávia pertencia à União Soviética. Assim como a Geórgia, o país tem regiões separatistas pró-Rússia (Abkházia e Ossétia do Sul), e Ucrânia (com a Crimeia e parte do Donbass), a nação também abriga um naco de território que defende a independência, a Transnístria. Trata-se de uma faixa de terra de 400 quilômetros de extensão a leste da fronteira com a Ucrânia. Seus governantes consideram a área autônoma, autoproclam-se a última república socialista do planeta e trazem na bandeira até a foice e o martelo desenhados em amarelo. Também como nas áreas separatistas da Geórgia e da Ucrânia, boa parte da população (dois terços) fala russo.
A Transnístria não é reconhecia como independente pela comunidade internacional. Nem a Rússia a considera autônoma - diga-se de passagem, Dontesk e Luhansk, na Ucrânia, também não eram reconhecidos pelo Kremlin oficialmente como independentes, algo que mudou dias antes da invasão, em fevereiro deste ano. Ou seja, mudar esse status depende apenas do humor de Putin. Por via das dúvidas, a Rússia mantém, no território da Transnístria, cerca de 1,5 mil militares posicionados. Todo o gás natural do território é fornecido pelo Kremlin gratuitamente. E mais: a área guarda cerca de 20 mil toneladas de munição, um dos maiores depósitos de armas da Europa, sobradas dos conflitos na região nos anos 1990. A maior parte está vencida. Mas cerca de 9 mil seriam utilizáveis.
Aliás, a economia de toda a Moldávia depende praticamente da Rússia - 100% do gás e 80% da eletricidade tem origem russa.
Sua presidente, Maia Sandu, ingressou, formalmente, com pedido de ingresso na UE em março deste ano. Qualquer semelhança com a Ucrânia do presidente Volodimir Zelensky não é mera coincidência.