Nas últimas 48 horas, a diplomacia entrou em cena, e podemos respirar um pouco mais aliviados em relação à possível guerra no Leste Europeu - ao menos por um breve período, provavelmente de duas semanas. Apesar dos reiterados "nãos" que o governo dos Estados Unidos deu às demandas da Rússia, países europeus abriram uma importante frente de diálogo capaz de distensionar a tensão.
Primeiro o aspecto negativo: a Casa Branca rejeitou duas das três reivindicações do Kremlin: o recuo da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) ao status anterior a 1999, ou seja, sem os países que outrora faziam parte do Pacto de Varsóvia, e o compromisso de que a aliança militar não incluirá a Ucrânia como membro. Os EUA disseram "não". A única porta que ficou entreaberta diz respeito a temas secundários, como desarmamento nuclear e monitoramento de exercícios militares mútuos - algo que, bem ou mal, já ocorre e que tem o objetivo de gerar confiança em ambos os lados. Nesta quinta-feira (27), representantes do governo Vladimir Putin deram sinais de descontentamento, mas mais leves do que o esperado.
- Não podemos dizer que nossos pensamentos foram levados em consideração ou que foi demonstrada a disposição de levar nossas preocupações em consideração - afirmou o porta-voz da presidência, Dmitri Peskov. _ Mas não vamos nos apressar com nossas avaliações.
O aspecto que deu ao mundo alguma esperança foi o encontro, na quarta-feira (26), de oito horas, do chamado Grupo de Contato da Normandia. À mesa de negociações, em Paris, sentaram-se representantes de Rússia, Ucrânia, Alemanha e França. O resultado: o diálogo continua, e uma nova reunião foi marcada para daqui a duas semanas em Berlim. Em diplomacia, negociações tensas que terminam com a promessa de um próximo encontro normalmente são consideradas vitórias. Também acenaram com um possível cessar-fogo entre separatistas e tropas do governo ucraniano em Lugansk e Donetsk, aliás, razão da criação do grupo da Normandia.
A verdade é que a celebração da reunião, a primeira iniciativa da União Europeia (UE) à margem dos EUA, mostra não apenas que os países do Velho Continente, principais interessados em uma solução pacífica, entraram de vez no debate. Revela também que a Otan está dividida sobre uma saída armada. A Turquia, que nos últimos anos se aproximou do Kremlin, disse que, em caso de conflito, "fará o que tem de fazer", ou seja, ficará do lado do Ocidente. O Reino Unido e os Estados Unidos enviaram armamentos para a Ucrânia. Mas a Alemanha, principal economia da Europa e motor da UE, tem titubeado por conta de interesses comerciais, leia-se o gás.
Enquanto isso, a Rússia mobiliza mais tropas na fronteira ucraniana - insuficientes para ocupar o país vizinho, por enquanto, mas mais do que razoávis para a anexação eventual da região do Donbass, onde ficam as áreas separatistas de Donetsk e Lugansk.