Nem tanto ao céu. Nem tanto à terra. Não se trata de "histeria" dos americanos, como classificou a Rússia a convocação da reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas para debater, pela primeira vez, a tensão na Ucrânia. Mas também não será em Nova York que a mais grave crise entre o Kremlin e a Casa Branca se revolverá.
É teatro? Um pouco, mas sobretudo uma forma de degastar o governo Vladimir Putin no principal fórum internacional. Na arena que normalmente as grandes potências debatem o futuro dos pequenos países, se haverá guerra ou não, se ditadores serão ou não alvo de sanções econômicas, os Estados Unidos conseguiram colocar a Rússia, um dos grandes, no foco.
Nenhuma ação irá ser aprovada pelo órgão contra a Rússia, porque o país, um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, tem poder de veto de qualquer decisão da maioria, seja sobre a aplicação de sanções econômicas ou outras. Esse poder, no entanto, não vale para bloquear a agenda. Tanto que o debate foi adiante nesta segunda-feira (31), apesar da objeção da própria Rússia, que foi apoiada pela China - uma primeira manifestação formal de apoio do gigante asiático a Moscou. Mas serviu para mostrar quem está de qual lado. O Brasil, que depois de 10 anos voltou em 2022 a ter uma cadeira não permanente no Conselho, votou a favor do debate proposto pelos EUA ir adiante, seguido por outros nove países. Índia, Gabão e Quênia se abstiveram.
Os americanos querem que a Rússia explique a concentração de tropas na fronteira ucraniana. Moscou sustenta a versão de que não pretende invadir o país vizinho. Enquanto isso, as discussões que realmente interessam ocorrem fora do prédio às margens do East River, em Manhattan. Nesta terça-feira, haverá uma conversa telefônica entre os chefes da diplomacia russa e americana, Serguei Lavrov e Antony Blinken, respectivamente. Em Washington, o presidente americano, Joe Biden, recebeu nesta segunda-feira (31) o emir do Catar para discutir, entre outras coisas, formas de garantir o abastecimento de gás à Europa, diante dos temores de que a Rússia corte suas exportações do produto. E a turma do "deixa-disso", composta pelo chefe da diplomacia francesa, Jean-Yves Le Drian, e sua colega alemã, Annalena Baerbock, viajarão esta semana a Kiev.