Como se sabe, Europa e Estados Unidos são uma espécie de janela para o futuro da realidade que o Brasil experimentará em termos de pandemia. Desde que a variante Ômicron foi identificada, em novembro, na África do Sul, o impacto que a cepa tem provocado no sistema de saúde e nas pessoas difere de acordo com as realidades geográficas e epidemiológicas.
A coluna faz um apanhado da situação nos Estados Unidos, onde a Ômicron "engoliu" a variante Delta, na França e no Reino Unido (dois dos países mais atingidos na Europa pela variante) e na África do Sul, que já considera a cepa uma onda passada.
Estados Unidos
A variante Ômicron já responde por 95,4% das infecções por covid-19 no país. Ao longo desta semana, os Estados Unidos têm observado recordes diários de novos casos - tendo superado 1 milhão, pela primeira vez, na terça-feira (4). Apesar da explosão de casos, o número de mortes segue em queda. Especialistas atribuem esse fenômeno à vacinação - e os americanos estão longe de vacinarem muito, uma vez que a campanha de imunização enfrenta resistências de setores religiosos e grupos políticos conservadores. O país registra nesta quinta-feira (6) 61,8% da população com as duas doses.
Análises sobre o desenvolvimento da Ômicron são estudadas em diferentes universidades e centros de pesquisas americanos. Um deles, em Houston, concluiu que pacientes infectados com a nova variante tem um terço de probabilidade de precisar de hospitalização na comparação com os atingidos pela Delta. Mesmo assim, como a Ômicron é altamente transmissível, seu impacto nos serviços de saúde é imenso.
Três pessoas testam positivo para covid-19 a cada segundo nos Estados Unidos, e Nova York voltou a ser o epicentro no país.
Embora menos mortal, a Ômicron provoca um efeito colateral perigoso porque sobrecarrega o sistema hospitalar e paralisa empresas e serviços. Em Nova York, um terço dos paramédicos, 21% dos policiais e 18% dos bombeiros estão afastados por terem positivado. Isso significa corpo de saúde doente e em casa, atendimento mais precário em hospitais - o que pode resultar em mortes no caso de outras enfermidades - e empresas sem funcionar. A principal causa dos milhares de voos cancelados no Ano-Novo no país deveu-se ao afastamento de tripulantes e funcionários em terra das companhias aéreas devido a infecções.
O país têm número recorde de crianças hospitalizadas com covid-19. Uma média de 672 crianças foram admitidas em hospitais do país todos os dias devido à doença durante a semana que terminou no domingo (2), o maior número da pandemia, de acordo com dados do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças). O número excede em muito o pico de hospitalizações durante o aumento repentino da variante Delta - quase 104 mil em setembro.
Europa
No continente, muito tem se falado do Reino Unido, porque esse foi um dos primeiros países atingidos pela Ômicron. Na proporção por milhão de habitantes, no entanto, o país registra menos casos do que a França (veja gráfico abaixo).
Em entrevista à rede BBC, o epidemiologista e professor do Imperial College Neil Ferguson informou que a taxa de infecção em Londres no grupo de 18 a 50 anos está estagnada. Grupos de idade mais avançada seriam os novos alvos.
O gráfico do Our World in Data sugere leve estagnação, de forma geral, ao contrário da França, onde segue em alta. Assim como nos Estados Unidos, a variante tem provocado grande número de casos, mas não se traduz, proporcionalmente, em óbitos. O país registra 69,68% da população imunizada com as duas doses.
Na França, a Ômicron também é predominante. O país também tem registrado recordes diários de novos casos - foram 270 mil na terça-feira (4), por exemplo. Antes da atual onda, o país nunca havia tido mais de 118 mil casos em um único dia. A exemplo dos EUA, o alto índice de positivos tem prejudicado os serviços devido à falta de mão de obra.
Na quarta-feira (5), o país adotou uma medida drástica: autorizou que médicos com covid-19, desde que com poucos ou nenhum sintomas, atendam pacientes, em vez de se isolarem. Trata-se de uma medida paliativa extraordinária destinada a diminuir a falta de pessoal em hospitais, lares de idosos, consultórios e outros serviços essenciais.
A França contabiliza 73,81% da população completamente imunizada.
África do Sul
O país onde a variante Ômicron foi identificada pela primeira vez observa a situação com mais tranquilidade. A cepa foi anunciada ao mundo em 25 de novembro. Houve alta de casos, mas, em pouco mais de um mês, a situação se estabilizou. O número de hospitalizações foi menor do que em ondas anteriores, e os médicos relataram pacientes com sintomas mais leves. A onda de infecções também cresceu e, na sequência, diminuiu mais rapidamente do que em ocasiões anteriores.
No início desta semana, o governo sul-africano suspendeu o toque de recolher que estava em vigor desde o surgimento da Ômicron e dá como encerrada a onda.
A África do Sul registra 26,61% da população imunizada com as duas doses - embora baixo para padrões europeus e americanos, é um percentual alto para o nível da África Subsaariana. O país só é superado por Botsuana, com 43,05%, e Ruanda, 40,69%, na região.