É recomendável muita cautela ao se observar a informação sobre a suposta descoberta de nova variante do coronavírus na França. A notícia, que desde terça-feira (4) circula em alguns sites brasileiros não encontra, até o momento, grande repercussão na imprensa francesa.
A cepa, denominada B.1.640.2 foi batizada de "variante Ihu" pelos pesquisadores. A cautela deve-se ao histórico do instituto que supostamente descobriu a variante. Trata-se do Instituto Hospitalar Universitário de Marselha (IHU), dirigido pelo polêmico médico Didier Raoult.
Raoult ficou conhecido como "Dr. Cloroquina". Escrevi um longo perfil em 2020 (leia aqui), quando suas ideias começaram a influenciar políticos que acreditavam no uso da cloroquina e seu derivado, a hidroxicloroquina, no tratamento de pacientes com covid-19.
Desde que apresentou seu estudo, ele foi considerado por ex-colegas e boa parte dos pesquisadores um charlatão.
Seus estudos não foram reconhecidos pelos pares, e Raoult já recebeu advertência da Ordem dos Médicos francesa por ter violado o código de ética, ao promover o uso do medicamento como tratamento para a covid-19 sem provas de sua eficácia.
A suposta descoberta da nova variante pelos pesquisadores que estão sob seu comando pode ser a redenção de Raoult. Ou afundá-lo ainda mais nas catacumbas da história da ciência.
O estudo a respeito da cepa ainda não foi verificado de forma independente, pelos pares, algo de praxe na Academia, para fazer valer qualquer pesquisa com rigor científico.