
Que péssima mensagem o Australian Open transmite ao mundo, concedendo uma autorização especial para que o tenista Novak Djokovic possa competir, dispensando-o da obrigatoriedade de estar vacinado contra a covid-19.
O atleta se nega a revelar seu status de vacinação (dizendo ser esse assunto de sua esfera pessoal) e já se declarou contrário à obrigatoriedade da imunização para competir.
O torneio confirmou na sequência da publicação do atleta que o pedido dele foi aceito "após um rigoroso processo de revisão envolvendo dois painéis independentes e separados de médicos e especialistas". Os protocolos de saúde foram definidos pela Tennis Australia, responsável pelo esporte no país, e pelo departamento de saúde do Estado de Victoria, onde fica Melbourne.
Entre as razões médicas para receber a permissão estão eventos adversos em relação à vacina e um exame PCR positivo para a doença nos últimos seis meses. Não se sabe qual critério foi levado em consideração no caso do tenista, mas uma coisa é certa: Djokovic contraiu o coronavírus em junho de 2020, ou seja bem antes desse prazo.
A Austrália chegou a ser um dos países mais rígidos em termos de restrições - o comércio das grandes cidades, como Sydney, ficou fechado por semanas, e a população foi impedida de sair às ruas a não ser em casos emergenciais. Era a estratégia chamada de "covid zero". Por meses, as fronteiras do país ficaram fechadas, e voos internacionais eram raros. O país registrou, desde o início da pandemia, 493 mil casos e 2.266 mortes.
A liberação especial ocorre no momento em que o país bate recordes de novos casos de covid-19, em especial devido à variante Ômicron. Na segunda-feira (3), foram 40 mil novos registros em 24 horas.
Mas, nas últimas semanas, todos os Estados, com exceção de Austrália Ocidental, implementaram uma política de conviver com o vírus, após atingir níveis altos de vacinação (76,71% com as duas doses, segundo a plataforma Our World in Data). Com isso, houve maior flexibilização das restrições e, consequentemente, elevação dos casos.
- Precisamos parar de pensar em números de casos e pensar em quadros graves da doença, viver com o vírus, administrar nossa própria saúde e garantir que estamos monitorando os sintomas para que possamos manter nossa economia aberta - disse o primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, ao Channel Seven.
A organização do Aberto da Austrália espera que 90% dos atletas estejam vacinados - e não há informação de outra licença especial, como a que Djokovic recebeu.
O esporte serve como modelo a milhares de pessoas (muitas delas, crianças), que veem em seus ídolos alguém a imitar. Ao burlar regras, Djokovic está dando um péssimo exemplo.
Enquanto mais explicações não forem dadas - e, ao que parece, não serão -, fica a impressão de que basta ser o número 1 do mundo no tênis para estar acima do bem e do mal.