A três meses da eleição em que tentará o segundo mandato, o presidente francês, Emmanuel Macron, precisa fazer malabarismos, diante do avanço da variante Ômicron, para evitar fechar de novo a economia do país - o que, se por um lado ajudaria a conter a nova cepa, como em ondas anteriores, daria munição aos seus rivais da extrema-direita.
Depois dos Estados Unidos, a França é o país no qual a Ômicron mais se faz presente, com 270 mil novos casos em 24 horas (dados da terça-feira, 4). Para evitar novos lockdowns, o governo encaminhou um projeto à Assembleia Nacional (parlamento), propondo a exigência do passaporte de imunização para o ingresso em bares, restaurantes, cinemas, academias e até hospitais. O debate ocorre ao longo dessa semana.
Macron ainda não oficializou a candidatura, mas tudo indica que tentará a reeleição. O primeiro turno ocorre em 10 de abril e o segundo no dia 24. Nos últimos anos, a eleição francesa tem encenado o enfrentamento de forças políticas da Europa como um todo: desde o fim do governo de François Hollande, os socialistas não conseguiram fazer alavancar candidaturas, ficando de fora do segundo turno em 2017 - disputado entre Macron e a candidata da extrema-direita, Marine Le Pen. Aliás, uma eventual vitória de Le Pen só foi barrada graças a uma frente republicana que uniu partido rivais tradicionais para evitar a ascensão da ultradireita.
Tensões nos últimos anos desafiam a continuidade de Macron: os protestos dos Coletes Amarelos, a crise migratória e principalmente a pandemia, que, como no Brasil, foi politizada entre apoiadores de medidas mais restritivas e a direita tradicional e radical, que se opuseram ao fechamento da economia, podem inviabilizar o segundo mandato.
Em 2022, há o surgimento de uma personagem relativamente nova no cenário político, que desponta como o retorno da direita tradicional, Valérie Pécresse, do Partido Republicano, o mesmo do ex-presidente Nicolás Sarkozy (2007-2012). Digo relativamente nova porque, para os franceses, é uma figura conhecida. Valérie foi ministra do Ensino Superior e da Pesquisa (2007-2011) e do Orçamento, das Contas Públicas e da Reforma do Estado (2011-2012), ambos no mandato de Sarkozy e atualmente é presidente do Conselho Regional da Ile de France, região onde fica Paris. Pesquisas realizadas em dezembro mostram que, em um eventual embate com Macron, ela venceria.
A demora de Macron em colocar a campanha na rua pode ser prejudicial. E o que poderia ser um trunfo, a ascensão como presidente rotativo da União Europeia (UE) desde os primeiros dias do novo ano, pode se tornar um tiro no pé - pode dar munição aos adversários que o acusam de ser mais "europeista" do que "francês". A própria celebração da presidência da UE foi ofuscada por uma polêmica de caráter eleitoral: a decisão de hastear a bandeira europeia no Arco do Triunfo, em Paris, foi rapidamente atacada por candidatos da direita e da extrema-direita, que a chamaram de "ultraje" e "traição" aos valores franceses. Pelo sim, pelo não, a bandeira foi retirada no sábado à noite.