Você deve lembrar das seguintes cenas dos últimos dois anos:
- No Equador, corpos de vítimas da covid-19 nas ruas ou dentro de casas porque o serviço funerário de Guayaquil estava em colapso.
- Valas comuns abertas no Amazonas para sepultar os mortos do coronavírus.
- Peru é o país com taxa de mortalidade por habitante mais alta na pandemia.
- O maior acumulado de mortes pela covid-19 está na América do Sul: 2.740 óbitos por milhão de habitantes.
- O maior pico de mortes diárias ao longo da pandemia também é registrada na região: 10,85 por milhão em abril de 2021.
- Desigualdade social, corrupção sistemas públicos já precários tornaram o subcontinente, a cada onda, o epicentro da covid-19 no mundo.
Quem diria, a mesma região que legou ao planeta as manchetes acima ingressa em 2022 com as curvas de casos x vacinação tendo se cruzado. Hoje, a região tem média diária de 0,7 mortes por milhão de habitantes (dado de 17 a 23 de dezembro), segundo Our World in Data. Para se ter uma ideia, esse número é seis vezes menor do que a Europa e os Estados Unidos.
Em meados de 2021, a América do Sul registrava um terço das mortes globais de covid-19, apesar de só ter 8% da população mundial. Hoje, o número acumulado de mortes está abaixo de um quinto do total global.
E, claro, esse recorde está diretamente relacionado ao alto percentual de população imunizada na América do Sul: 63,4% dos 434 milhões de habitantes estão vacinadas com as duas doses - com relação a pelo menos uma dose, o percentual sobe para 74,3%.
A Europa é a segunda região com mais pessoas completamente imunizadas, 60,5%. O índice sul-americano é também superior a de América do Norte (58%) e Ásia (55%).
Esse bom resultado é puxado por líderes mundiais, como Chile (86,03%), Uruguai (76,75%), Argentina (71,61%) Equador (70,27%) e Brasil (67,03%). Com diferentes realidades, cada nação tem seus méritos particulares com relação ao controle da covid-19, mas, de forma geral, esses países fizeram valer o histórico de outras campanhas de vacinação. Ou seja, uma importante infraestrutura foi colocada em movimento. Além disso, em nações com altos índices de doenças tropicais, a imunização é algo cultural, o que produz confiança na população nos produtos, realidade diferente de regiões dos Estados Unidos e da Europa, onde há ceticismo e fortes movimentos antivacina.
A maioria dos governos sul-americanos também se antecipou em acordos com fabricantes de vacina. No caso do Chile, o sucesso se deveu à vacina da Sinovac. Em conjunto com a Universidade Pontifícia Universidade Católica, a fabricante chinesa realizou no país um estudo sobre o imunizante e, em contrapartida, o país obteve acesso preferencial a sua versão do que, no Brasil, ficou conhecida como CoronaVac. De todos os líderes, a Argentina foi a que fez uma opção diferente: escolheu, desde o primeiro momento, a vacina russa Sputnik para imunizar a população.
A exemplo da situação global, a distribuição de vacina é desigual no continente. Nações como Guiana, Bolívia e Suriname têm taxas inferiores a 40%. A diferença também é perceptível em relação às doses de reforço. Enquanto Chile e Uruguai registram 56,84% e 43,65%%, respectivamente, nações como Brasil, Bolívia e Colômbia estão bem abaixo (12,42%%, 4,59%% e 6,32%%, respectivamente). A média da região é de 8,8%. A Europa é o continente com o maior número de doses de reforço (21,5%).