Lembra das promessas de moderação pelo Talibã, ao assumir o comando do Afeganistão, em meio à retirada das tropas dos Estados Unidos? Esqueça.
A cada dia surgem novos relatos de violência em diferentes regiões do país, que mostram que, por enquanto, as promessas de mudança de comportamento por parte da milícia fundamentalista não passam de bravatas.
Na terça-feira (8), um protesto em Dasht-i-Barchi, em Cabul, foi reprimido com violência por combatentes afegãos. Dois jornalistas locais disseram ter sido torturados após cobrirem as manifestações. A região é habitada por pessoas da etnia hazara, que foi alvo de perseguições quando o Talibã estava no poder entre 1996 e 2001.
Depois de prometer que mulheres continuariam trabalhando, estudando e ocupando cargos público, o Talibã anunciou, na segunda-feira (6), um governo composto apenas por homens. Na quarta, um dos líderes da milícia, Ahmadullah Wasiq, afirmou que mulheres serão proibidas de praticar esportes.
- Eu acho que não será permitido às mulheres jogar críquete, porque não é necessário que as mulheres joguem críquete. No críquete, elas podem estar em situações em que o rosto e o corpo não estejam cobertos, e o Islã não permite que elas sejam vistas dessa forma - disse, em entrevista à SBS, uma emissora de TV australiana.
O críquete é muito popular no Afeganistão.
Em outro sinal de que os velhos tempos do Talibã podem estar voltando é que a milícia recriou o temido Ministério da Promoção da Virtude e da Prevenção do Vício, órgão ao qual está subordinada a polícia política responsável por fiscalizar o cumprimento de regras de comportamento e vestimenta, por exemplo. À época em que o Talibã era poder, em seu primeiro governo, mulheres precisavam cobrir o corpo da cabeça aos pés com burca e os homens deviam usar obrigatoriamente barba. Crimes como adultério, segundo a interpretação talibã da sharia (lei islâmica), eram punidos com açoite, apedrejamento e morte. Mulheres eram relegadas a papéis secundários, não podiam estudar e raramente tinham acesso a atendimento médico.