O relatório divulgado na segunda-feira (9) pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) vinha sendo trabalhado havia três anos.
Mas sua publicação coincide com fenômenos extremos de um verão no Hemisfério Norte fora do habitual: onda de calor sem precedentes em junho no Canadá, inundações na Bélgica e Alemanha, em julho, e os atuais incêndios florestais na Itália, Grécia e Turquia.
As imagens da Ilha de Evia são impressionantes. O fogo está fora de controle, comunidades estão em fuga. Na capital, Atenas, pontos turísticos como a Acrópole tiveram de ser fechados em razão do calor de 45ºC e da fumaça. A União Europeia (UE) montou a maior operação contra o fogo de sua história.
É preciso, no entanto, cautela ao associar diretamente esses eventos às mudanças climáticas. Incêndios florestais são muitas vezes parte natural e necessária da vida das florestas mediterrâneas. Entre 2006 e 2016, 30 mil eventos queimaram a cada ano 457 mil hectares em Espanha, França, Portugal, Itália e Grécia.
O problema é que, de cinco anos para cá, os incêndios têm sido muito maiores, devastando vilarejos e destruindo economias locais. Evia, que queima atualmente, é uma região produtora de vinho e resina. E a produção foi destruída.
O fogo é causado pela forte onda de calor. Julho de 2021 foi o segundo mês mais quente já registrado na Europa, e o terceiro em escala global. E o sul mediterrâneo tem sido foco principal desse calor extremo. E é aí que entram as mudanças climáticas no assunto, aumentando a frequência e a gravidade das queimadas.
Não só regiões da Europa queimam. Na área de Iacútia, no norte da Síbéria, a fumaça produzida pelas chamas chegou ao Polo Norte. E, nos EUA, o incêndio conhecido como Dixie, tornou-se o segundo maior da História no Estado da Califórnia (187,5 hectares de florestas foram destruídos, e a cidade histórica de Greenville foi devastada).
Em resumo: embora sejam episódios recentes (e a ciência normalmente trabalha com fenômenos repetidos, que gerem uma tendência), o aumento da intensidade e da frequência provocada pela onda de calor sem precedentes leva pesquisadores a consideraram que esses eventos extremos têm provavelmente relação com o aquecimento do planeta. No caso dos Estados Unidos, um estudo climático publicado na revista Nature descobriu ainda que as temperaturas médias mais altas estão aumentando a duração da temperatura de incêndios e o número de locais onde os episódios podem ocorrer.