A Guerra ao Terror está morta. Longa vida à Guerra ao Terror!
A expressão acima tem óbvia inspiração na famosa proclamação feita na sequência da ascensão ao trono de um novo monarca no momento em que o caixão contendo os restos do antecessor descia às catacumbas, como forma de simbolizar a transferência instantânea de soberania: "O Rei está morto. Longa vida ao Rei!"
A saída dos Estados Unidos do Afeganistão, nas próximas 48 horas, pode encerrar um capítulo na história militar americana, mas não terminará nem com a guerra no país asiático muito menos com o terrorismo. Ao contrário, o atentado da última quinta-feira (26) em frente ao aeroporto de Cabul mostrou que a Guerra ao Terror está viva, e o foco que a Casa Branca pretendia dar à CIA a partir de agora, de volta à espionagem convencional contra aparatos de segurança de Estados, leia-se China e Rússia, terá de continuar, ao menos com um braço, em organizações extremistas.
O ataque americano com drone no sábado (28), que teria neutralizado um novo atentado e matado dois organizadores da explosão de quinta-feira (26), mostra que, mesmo retirando tropas do terreno, o governo Joe Biden pretende:
1 - Manter operações clandestinas de contraterrorismo contra o chamado Isis-K, grupo que reivindicou o ataque ao aeroporto.
2 - Mesmo fora do Afeganistão, oficialmente, os americanos irão continuar violando seu espaço aéreo e soberania com a desculpa de caçar terroristas.
3 - Os EUA seguem fazendo o que querem em Estados falidos, como o Afeganistão e só irão ser limitados quando outra potência, como a China, os constranger, algo que ocorreu na Síria a partir da entrada em cena da Rússia.
4 - O terrorismo é uma boa desculpa para uma não tão improvável aliança entre os EUA e os extremistas do Talibã, uma vez que, nos anos 1980, isso já ocorreu contra o inimigo comum, à época os mujahedins financiados pela CIA contra os soviéticos.
A cada minuto, a presença americana no Afeganistão se torna mais insustentável. As últimas 48 horas oficiais dos americanos em Cabul serão dramáticas. Um novo atentado terrorista é altamente provável, conforme as previsões do próprio Biden. A ordem é sair o mais rapidamente possível. Isso significa que, quando o último dos restantes 4 mil militares americanos embarcar e as portas dos cargueiros se fecharem, muitos afegãos que desejariam fugir do Talibã ficarão para trás.
No final de semana, Biden ordenou o ataque com drone a fim de resgatar um pouco da dignidade perdida pelo governo americano diante do caos da retomada do Talibã e do atentado de quinta-feira (26). "Não será o último", prometeu o americano, sugerindo que os EUA sairão do Afeganistão. Mas o Afeganistão não sairá dos EUA tão cedo. A Guerra ao Terror está morta. Longa vida à Guerra ao Terror!