Não existe, no cenário internacional, a possibilidade de se pensar preservação do ambiente sem falar de Amazônia. E não há como falar da maior floresta tropical do mundo sem chamar o Brasil para o debate. Seria como problematizar a questão da poluição global sem convocar a China, que junto com os Estados Unidos, é o maior emissor de gases poluentes do planeta.
Por isso, se o Brasil depende da reunião de cúpula de líderes mundiais sobre o clima para mostrar uma mudança de comportamento em relação à agenda ambiental perante os Estados Unidos (e garantir investimentos externos), também a Casa Branca depende do governo brasileiro para o sucesso do encontro.
O evento, que ocorrerá nas próximas quinta (22) e sexta-feira, (23) é a menina dos olhos de Joe Biden e sua primeira participação na arena internacional justamente diante do tema que escolheu como prioridade do mandato.
Ao mudar, nas últimas semanas, o tom do discurso ambiental, priorizando preservação, o Planalto entendeu o recado da Casa Branca de Biden. A mensagem já havia sido dada pelo democrata durante a campanha presidencial. Sem preocupação com o ambiente, não haverá investimentos - ao contrário, poderá haver até punições.
O Brasil, que ao seguir acriticamente a doutrina Donald Trump de negação das mudanças climáticas, readequou o discurso, avaliando inclusive aumento de verba para o Ministério do Meio Ambiente. O posicionamento mudou da água para o vinho, a se tomar como exemplo a carta que o presidente Jair Bolsonaro enviou a Biden, na quarta-feira (14), comprometendo-se em eliminar o desmatamento ilegal no Brasil até 2030.
Os Estados Unidos sabem que, até lá, nem Biden nem Bolsonaro estarão no poder - mesmo que sejam reeleitos para novos mandatos. Por isso, o entendimento americano vai depender muito de Washington ver na promessa algo concreto e boa intenção. O primeiro sinal é de alerta: o governo Biden não quer esperar resultados para daqui nove anos, mas dados parciais já no final de 2021.
Na cúpula, cada chefe de governo terá três minutos para falar, de forma virtual. Biden abrirá o encontro, anunciando a meta de reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa em 50% até 2030, quase o dobro do anteriormente prometido. Depois, cederá o microfone para os mais de 40 líderes mundiais, na expectativa de que também eles se comprometam com objetivos mais ambiciosos. Não haverá acordos a serem assinados durante a reunião. Apenas intenções. Mas, no mínimo, será a oportunidade para recolocar os EUA nos trilhos da liderança na questão climática, após quatro anos de negacionismo de Trump.