Aliada do Brasil no Mercosul, mas histórica rival do ponto de vista geopolítico na América Latina, a Argentina sairá na frente na vacina contra a covid-19.
O governo do kirchnerista Alberto Fernández começará a imunizar sua população contra o coronavírus na terça-feira (29). Como todo assunto que desperta polarização política, há motivos para provocar inveja aos brasileiros ou, no mínimo sua indiferença - para não falar desprezo -, dependendo do lado que se escolhe do espectro ideológico.
A vacina russa chegará a cada província da nação vizinha nesta segunda-feira (28) e, já na manhã seguinte, serão administradas as primeiras doses.
Sabe-se que os países que imunizarem suas populações sairão antes da crise sanitária e econômica – além, claro, de pouparem vidas.
Do ponto de vista da rivalidade política entre os presidentes Jair Bolsonaro e Fernández, o brasileiro perde. A ideia do governo argentino é vacinar até 10 milhões de pessoas até fevereiro, enquanto o brasileiro não tem, neste momento, sequer uma data oficial precisa para o início da campanha de vacinação.
A Argentina é a terceira maior economia da América Latina e, imersa no caos econômico antes mesmo da pandemia, viu 42 mil cidadãos morrerem por causa da covid-19 – e outros 1,6 milhão serem infectados. Cerca de 300 mil doses chegaram ao país na quinta-feira (24). Fernández está dando a sua população um imunizante que toda a humanidade deseja.
Entretanto, há a outra metade do copo.
Pesam sobre a Sputnik V, a substância escolhida pelos argentinos, muitas dúvidas sobre segurança e efetividade. Pesquisadores demonstram preocupações sobre a velocidade com que o país de Vladimir Putin tem trabalhado na vacina, sem que testes sejam completamente concluídos.
Defensores do presidente Bolsonaro afirmarão o mesmo que dizem sobre a imunização chinesa – não há garantias de efetividade (a Rússia diz que ela alcançou mais de 90%). Além de não ter concluído ainda todas as etapas da pesquisa, o país não divulgou até o momento qualquer evidência científica que confirme a eficácia e a segurança da vacina. Falta transparência. Além da Argentina, apenas a própria Rússia e outro aliado histórico, Belarus, aprovaram seu uso de forma emergencial.