O esporte tem sido a principal caixa de ressonância de temas sociais pungentes, como o racismo nos Estados Unidos. Desta vez, começou pela NBA, a liga profissional de basquete, com a revolta de jogadores do Milwaukee Bucks, liderados pelo armador George Hill. Eles não entraram em quadra contra o Orlando Magic, que, por sua vez, não aceitou o WO e aderiu ao protesto contra as cenas revoltantes da agressão policial a Jacob Blake, em Wisconsin. Outras equipes se juntaram ao movimento, e a NBA teve de adiar os confrontos. Nesta quinta-feira (27), a japonesa Naomi Osaka levou a indignação para as quadras de tênis, e o torneio de Cincinnati adiou os jogos das semifinais. As ligas de beisebol e de futebol também suspenderam partidas.
Pela conscientização, popularidade e capacidade de influência, os atletas americanos _ em grande parte negros _ potencializam a revolta diante de episódios como a morte de George Floyd e os abusos contra Blake. A luta contra o racismo ganha dimensão maior quando incorporada por astros do show business, do esporte, ou quando começam a atingir a economia.
Além da visibilidade que atletas emprestam à rejeição à violência policial, o boicote abala as receitas das ligas esportivas, normalmente acostumadas aos bilhões e agora duramente atingidas pelos reflexos da pandemia.
Os protestos antirracismo ganharam força com a morte de Floyd, mas desde 2017, no primeiro ano de Donald Trump na Casa Branca, jogadores da principal liga de futebol americano, a NFL, ecoam gestos políticos. Ganharam o mundo as cenas dos atletas ajoelhados durante a execução do hino nacional americano.
À época, Trump sugeriu uma reação inversa - o boicote do público aos jogos da NFL - e, ainda apegado a seu personagem em "O Aprendiz" (programa de TV no qual costumava demitir pessoas), sugeriu que os jogadores fossem mandados embora. Agora, em plena campanha e atrás do democrata Joe Biden nas pesquisas, o presidente não tem como repetir a ideia. Como fã dos esportes nacionais - em especial, de beisebol -, Trump deveria seguir seus ídolos. Não é hora de competir com a popularidade de gigantes como George Hill, Colin Kaepernick e Naomi Osaka. Insistir no silêncio ou na retórica de "lei e ordem" contra o que considera "anarquia" pode levar a sua própria demissão, em novembro.