A convenção do Partido Democrata terminou nesta quinta-feira (20) com o aceite do senador Joe Biden como o candidato da legenda para a eleição de 3 de novembro nos Estados Unidos. Agora, é a vez de Donald Trump ocupar a cena.
O encontro do Partido Republicano, que também ocorrerá de forma virtual devido à pandemia de coronavírus, começa na segunda-feira (24) e vai até quinta-feira (27), dia em que o presidente deve, enfim, ser oficialmente anunciado como postulante à reeleição.
A coluna preparou sete pontos sobre o que esperar do evento.
1 - A economia era o principal trunfo de Trump para a reeleição. Antes da pandemia, o país apresentava índices impressionantes, com o menor desemprego em 50 anos. Mas o coronavírus deixou cerca de 30 milhões de americanos sem trabalho. O presidente deve se apegar à boa notícia segundo a qual houve rápida recuperação do emprego nos meses de maio e junho (apesar dos alertas do banco central americano, o Federal Reserve, de que uma melhora substancial adicional depende de uma reabertura ampla e sustentada da atividade empresarial). Trump deve tentar vender a ideia de que o pior já passou, de que a atividade econômica voltou ao normal (e, se não voltou, é culpa dos governadores democratas) e que, em breve, uma vacina será distribuída à população. Ele também deve destacar a ajuda (cheque) que deu aos americanos mais pobres para enfrentar as dificuldades econômicas.
2 - Trump disse que aceitará a nomeação do partido em discurso, na quinta-feira (24), a ser feito nos jardins da Casa Branca. A escolha do local é polêmica porque o presidente estaria usando a sede do poder americano para fins eleitorais. Trump diz que fará dali o seu pronunciamento porque é um lugar no qual "se sente bem".
3 - Junto com a economia, o coronavírus é o principal calcanhar de Aquiles de Trump. A pandemia tornou a eleição de novembro um grande referendo sobre como ele se saiu no combate à crise. Junto com Brasil, os EUA são o único país do mundo onde o número de mortos passa de 100 mil (está nesta sexta-feira, 21, em 174 mil).
Trump deve sustentar que os EUA são a nação com mais casos (5,5 milhões de infectados) devido ao alto número de testes realizados.
4 - Na quinta-feira (20), Steve Bannon, o principal estrategista de campanha de Trump em 2016, foi preso por fraude. Agora, com a convenção encerrada, os democratas usarão a detenção do homem que construiu a imagem do presidente para desgastar o adversário e a serviço da narrativa de que Trump é impróprio para o cargo.
O presidente tentou se distanciar do episódio, afirmando que não falava com Bannon há um bom tempo. O motivo da prisão foi o suposto desvio de dinheiro de uma campanha para angariar fundos para a construção do muro entre os EUA e o México. Apesar do impacto da notícia nas fileiras republicanas, o tema da barreira, carro-chefe da campanha anterior e promessa não cumprida durante o mandato de Trump, deve voltar ao discurso do presidente durante a convenção.
5 - Um dos pontos ainda não definidos do encontro, mas que já causa polêmica é a participação do casal Mark e Patricia McCloskey. Os dois apontaram um fuzil e um revólver para manifestantes que protestavam contra a violência policial perto de sua residência, em 28 de junho, em Saint Louis. A informação sobre o suposto discurso que os dois farão foi confirmada por conselheiros de Trump ao The Washington Post. Embora repudiado por boa parte da opinião pública, o ato serve à narrativa de Trump de ser o presidente da “lei e da ordem”, uma vez que muitos eleitores de sua base criticaram os protestos que se espalharam pelos EUA após a morte do negro George Floyd por um policial branco, em Minneapolis. A candidatura também tem o forte apoio de entidades pró-armas, como a Associação Nacional do Rifle (NRA), o mais poderoso grupo de lobby a favor do armamento nos EUA.
6 - Nos vários discursos da convenção, a China deve ter protagonismo dentro da narrativa de Trump segundo a qual o país é responsável por ter espalhado o coronavírus. A retórica anti-China serve para tentar convencer os eleitores de que o país asiático é uma ameaça aos empregos americanos. Trump deve reforçar a ideia de que a pandemia mostrou a dependência global de insumos chineses - para respiradores, medicamentos, máscaras de proteção. Deve repetir que muitas empresas americanas com sede no país estariam retornando para o território americano (e, supostamente, trazendo os empregos de volta).
7 - O pano de fundo dos discursos será a tentativa de definir um modelo de governo que é a antítese da administração democrata anterior, em que Joe Biden era vice de Barack Obama. Trump deve retomar a retórica nacionalista, que toca fundo no eleitor mais conservador do Meio Oeste americano. O "America First" é um slogan poderoso em oposição ao modelo proposto por Biden, de recolocar os EUA nos organismos internacionais e do resgate do país como uma nação que lidera a ordem global. Para o eleitor médio, preocupado com o bolso, o discurso de Trump tem maior aderência.