É com misto de surpresa e cautela que o Brasil observa o recuo do governo argentino na decisão de se afastar das negociações de livre-comércio do Mercosul com outros países, anunciada em abril, quando a nação vizinha avisou aos demais sócios do bloco que iria abandonar o diálogo para novos acordos.
Em documento entregue a Brasil, Paraguai e Uruguai, a Casa Rosada afirma que deseja voltar à mesa de negociações, mas em ritmo diferente dos parceiros: espera que os tratados avancem de forma mais lenta. Também ameaça adotar medidas protecionistas caso julgue necessário: “A Argentina ratifica a necessidade de avançar na procura de soluções conjuntas que permitam aos países do bloco avançarem em ritmo diferenciado com a agenda de relacionamento externo, levando em consideração a situação econômica interna da Argentina e o contexto internacional”, diz a nota do Ministério das Relações Exteriores da Argentina.
- Primeiro estavam fora. Depois, queriam ir em tempos diferentes. Agora, querem estar em tudo, mas do jeito deles - afirma à coluna um funcionário brasileiro ligado às negociações.
O recuo é uma resposta às críticas do setor empresarial argentino, em especial do agronegócio, e da oposição ao chanceler Felipe Solá e ao presidente Alberto Fernández, depois da decisão de abandonar as negociações. Diplomatas brasileiros observam com cuidado os movimentos. O ceticismo impera no Itamaraty.
- Só astrólogo ou pitonisa para decifrar - avalia uma fonte.
As idas e vindas são analisadas pelos parceiros do bloco. Nesta quinta-feira (7), negociadores devem voltar a se reunir por videoconferência para discutir a questão. Brasil, Uruguai e Paraguai esperam que a Argentina esclareça sua posição. Atualmente, o Mercosul tem negociações abertas com Coreia do Sul, Canadá, Líbano e Singapura.