No momento em que governos cancelam eventos, decidem por medidas drásticas, proíbem grandes aglomerações e fecham fronteiras em razão da crise do coronavírus, nunca é demais lembrar que há pessoas que não têm outra opção a não ser ficar perto umas das outras.
No Brasil, penso em idosos em asilos e em pessoas em situação de rua. Em nível internacional, imagino os campos de refugiados superlotados e insalubres da África e, mais recentemente, das ilhas gregas, que abrigam refugiados dos conflitos do Oriente Médio e do norte do continente africano.
"Em algumas partes do campo de Moria (onde nesta segunda-feira, 16 uma criança morreu devido a um incêndio), há apenas uma torneira de água para cada 1,3 mil pessoas e não há sabão disponível. Famílias de cinco ou seis pessoas precisam dormir em espaços de não mais que três metros quadrados. Isso significa que medidas recomendadas, como lavagem frequente das mãos e distanciamento social, são impossíveis", explica a médica Hilde Vochten, coordenadora da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) na Grécia.
Dados a falta de serviços de saneamento adequados e os cuidados médicos limitados, o risco de o vírus se espalhar entre os habitantes dos campos é extremamente alto. O primeiro caso já foi confirmado em Lesbos, um cidadão grego. Organização de ajuda humanitária, como MSF, tem exigido a evacuação dos campos.
A entidade denuncia que os locais de confinamento são parte da política de contenção da Europa. Existem 42 mil requerentes de asilo presos em cinco pontos nas ilhas gregas. No auge da crise migratória, em 2015, boa parte da fortaleza Europa fechou suas portas – exceção foi a Alemanha. Agora, em meio à crise epidêmica, as medidas de contenção são ainda mais severas — inclusive o governo alemão interditou os acessos a três nações do Norte.
É justo e necessário que nos preocupemos com nossa saúde, com a de nossos familiares, que estejamos alerta, mas um minuto de reflexão sobre os mais vulneráveis se faz necessário. A crise do coronavírus testa a livre-circulação na Europa, o sistema capitalista, a rede de saúde dos países, nossa forma de trabalhar e estudar, mas também nossa empatia e nossa humanidade.