Depois do Brexit, o coronavírus pode ser o segundo golpe a abalar o projeto de União Europeia (UE) em menos de um mês.
Se a saída do Reino Unido do bloco, em 31 de janeiro, atingiu as estruturas econômica e política da entidade supranacional, a chegada do covid-19 ao continente abala um dos princípios mais caros à UE: o da livre circulação de pessoas, que junto com bens e capitais, compõe a espinha dorsal do sonho europeu.
No Espaço Schengen, estabelecido em 1997, cidadãos entram e saem das nações sem checagem de documentos. Trata-se de uma convenção sobre a abertura das fronteiras e livre circulação de pessoas que passou a fazer parte do quadro institucional e jurídico da UE pelo Tratado de Amsterdã. Ou seja, é condição para todos os Estados que aderirem à UE aceitarem as condições estipuladas no Acordo e na Convenção de Schengen. Mas como permitir a livre circulação de pessoas se há um surto que ameaça a segurança internacional?
Na manhã desta segunda-feira (24), o comissário europeu para a Coordenação da Resposta de Emergência, Janez Lenarcic, disse que estão sendo tratados vários planos de contingência, mas que "no momento", não está sendo avaliado o fechamento de fronteiras.
— Para avançar com uma medida dessas, a União Europeia deve basear-se em uma avaliação crível do risco e na evidência científica — afirmou.
A Itália é a quarta maior economia do continente e um dos principais destinos turísticos do mundo — o turismo costuma ser o segundo termômetro do impacto de uma epidemia nos negócios. O primeiro é o mercado financeiro: as bolsas de valores europeias operam nesta segunda-feira (24) em forte queda. No Brasil, só se saberá na quarta-feira (26), em razão do Carnaval. A fim de tentar conter o avanço do surto, autoridades italianas decidiram encerrar dois dias mais cedo o carnaval de Veneza e adiar jogos de futebol da divisão principal na região de Milão.
A confirmação da morte da sexta vítima no país marca um ponto de inflexão na percepção global sobre a doença. A Europa é uma fronteira psicológica entre a Ásia e chamado Ocidente. O coronavírus já não está mais tão distante.