Há exato um ano, em 23 de janeiro, o líder da oposição na Venezuela Juan Guaidó surpreendia o país e o mundo ao se autodeclarar presidente — em um corajoso desafio à ditadura de Nicolás Maduro. Ato contínuo, os governos de Estados Unidos, Colômbia e Brasil reconheciam o jovem político como o novo chefe de Estado venezuelano. Hoje, são mais de 50 nações a fazer o mesmo. No entanto, Guaidó nunca pisou no Palácio de Miraflores, a sede da presidência.
A Venezuela pouco mudou desde aquele dia – cenas de desabastecimento, crise econômica, dificuldades da população em conseguir produtos do dia a dia, como sabonete e papel higiênico, continuam. Fracassado o ato de rebeldia inicial – sufocado pelo governo –, Guaidó e seus apoiadores ainda tentaram dois outros dias de revolta – no mês seguinte à autoproclamação, organizou com apoio de Colômbia, Brasil e EUA a entrada de ajuda humanitária pelas fronteiras venezuelanas. Não conseguiu.
Em 30 de abril, apareceu na frente de uma das principais unidades militares de Caracas ao lado de Leopoldo Lopez, triunfo daquele dia, afirmando, finalmente, ter o apoio das forças armadas para colocar "fim à usurpação".
Mais uma vez, o regime Maduro balançava, mas não caía.
Guaidó não tinha – e não tem – o comando militar na mão. Fiéis da balança do autoritário presidente entronado em Miraflores, os quartéis podem até nutrir alguma simpatia pelo autodeclarado presidente, mas, na caserna venezuelana, impera o medo. Insubordinação é punida com prisão – ou morte, se lembrarmos o caso do ex-policial e piloto Óscar Pérez, caçado pelas forças maduristas e executado depois que atacou, com um helicóptero, prédios governamentais.
Guaidó não conseguiu amalgamar a população contra o regime — por fatores que estão mais relacionados com a estrutura de poder, controle e terror construída pelo chavismo do que por uma suposta incompetência do líder opositor.
A revolução de Guaidó definharia nos meses seguintes até a bizarra cena em que, recentemente, foi obrigado a pular a cerca da Assembleia Nacional, rasgando o paletó, para conseguir ingressar no prédio cercado pelas forças de Maduro no dia da "eleição" para a presidência da Casa.
Nesta quinta-feira (23), a presença de Guaidó em Davos, no aniversário de seu ato mais ousado é sintomática do impasse no qual a Venezuela, país com "dois presidentes, está mergulhada. Foi recebido com honras de chefe de Estado, tem o apoio de grande parte da comunidade internacional, mas não sabe, sequer, se poderá voltar a seu país sem ser preso.