Depois de vários rumores sobre o suposto fim da participação brasileira na missão de paz das Nações Unidas no Líbano (Unifil), a Marinha confirma que propôs ao ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, a retirada dos militares da região e o encerramento das operações até dezembro de 2020.
A missão de paz da ONU no Líbano foi criada em 1978 e conta com 12 mil militares de diversos países. O Brasil comanda a missão por meio de um navio com 250 marinheiros desde 2011. O último foi enviado em 4 de agosto.
A Marinha lista três razões para encerrar a missão em um dos momentos mais tensos na região nos últimos anos, com o retorno de escaramuças entre Israel e a milícia libanesa do Hezbollah e a violência no Golfo Pérsico.
Conforme a força naval, será dada prioridade ao chamado "entorno estratégico brasileiro", que contempla, como regiões marítimas, a Antártica e o Atlântico Sul.
Outra razão seria financeira: "a conjuntura econômica impõe à Força Naval um cenário de recursos limitados e, nesse contexto, faz-se necessário priorizar algumas iniciativas", informa o comando da Marinha.
A força informa ainda que a medida foi tomada após análise de eficiência: "os ganhos político e operacional e o esforço logístico necessário para manter um navio de guerra, por oito meses, afastado de sua base, indicam a necessidade de um redirecionamento desse emprego em nosso entorno estratégico".
Nos bastidores em Brasília fala-se de um pedido do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ao presidente Jair Bolsonaro, para que encerrasse a missão. Há pressão também para que o Brasil reconheça a milícia Hezbollah (um partido político legalizado no Líbano) como "terrorista", classificação adotada por Israel, Estados Unidos e União Europeia.
Antes da confirmação pela Marinha do encaminhamento do pedido, a comunidade libanesa no Brasil já havia cobrado do Planalto posição sobre o assunto. Em carta enviada ao presidente, o ex-deputado federal e ex-ministro Carlos Marun e outras 248 personalidades, entre elas o ex-senador Pedro Simon, o grupo lembrou que 25 mil brasileiros vivem no Líbano e disse que "a retirada da Marinha será o convite a mais uma guerra, o que certamente colocaria em risco a vida de todo este enorme contingente de cidadão brasileiros".