Sneha Savindi Fernando estava de pé na fila da Igreja São Sebastião para a comunhão da missa do domingo (22) quando a explosão ocorreu. Morreu aos 11 anos, foi uma das vítimas fortuitas dos terroristas que decidiram transformar em inferno a celebração de Páscoa no Sri Lanka. Com ela, outras 252 pessoas pereceram.
Nesta segunda-feira (22), na casa humilde de Negombo, perto da capital, a avó, aos prantos diante do caixão da neta, perguntava aos céus:
– Por que me tiraram ela? Há tantas pessoas ruins no mundo. Por que matar inocentes?
O apelo da mulher, descrito pelos jornalistas Jeffrey Gettleman e Dharisha Bastians no The New York Times, toca profundamente a todos nós que olhamos para as imagens das três igrejas manchadas de sangue no dia mais sagrado dos cristãos (na foto, a de São Sebastião). Eram templos católicos no Sri Lanka, mas poderiam ser mesquitas na Nova Zelândia, sinagogas em Israel, casas de espetáculos em Paris ou mercados de Bagdá.
Em 16 anos de coberturas jornalísticas relacionadas a terrorismo e conflitos armados, a inquietação que mais me atormenta diante de atentados como o da Páscoa é a mesma da avó de Sneha: Por que matam inocentes? Por que crianças?
Em qualquer guerra, inocentes morrem, você pode afirmar. É verdade. Bombas foram despejadas sobre vilarejos no Vietnã e no Camboja e em cidades europeias e japonesas na II Guerra Mundial. Também crianças morreram lá – os chamados efeitos colaterais do jargão militar. Mas houve um tempo em que certa ética permeava decisões de exércitos: não se bombardeava hospitais, creches, deliberadamente. Não se matava prisioneiros de guerra nem degolava-se jornalistas.
O terror mata, degola, explode porque está em seu cerne afligir a civis o maior número de mortes possível, de preferência provocando efeito psicológico devastador. E nada é mais devastador do que crianças mortas, como Sneha. Diante do grito daquela avó perante o caixão, talvez até os céus tenham se calado.