Emmanuel Macron agiu como a grandeza esperada de um estadista confrontado com uma tragédia de grandes proporções como a da Notre-Dame, na segunda-feira (15): interrompeu imediatamente a agenda, que previa pronunciamento à nação sobre a crise dos Coletes Amarelos, deslocou-se para a frente da catedral, como fizeram milhares de cidadãos franceses e turistas, e, assim que o fogo foi extinto, comprometeu-se em reconstruir o templo. Fez o que devia fazer: irmanar-se com seus concidadãos, chorar junto e, em seguida, mostrar-se determinado a fazer ressurgir das cinzas o monumento da humanidade.
Porém, passado o espanto do 15 de abril, a história vai cobrar de Macron pulso firme. Primeiro, para encontrar os responsáveis pelo início do incêndio: quem era a empresa que fazia as obras de restauração em Notre-Dame? De que cuidados e métodos de segurança dispunham? Um inquérito foi aberto para investigar o incidente. As primeiras análises descartam que tenha sido criminoso.
Segundo, lidar com o problema em meio a uma crise política. O desastre em Notre-Dame pega Macron em momento turbulento de seu governo, sacudido por manifestações dos Coletes Amarelos. Dois dias antes do incêndio, no 22º sábado de manifestações, um protesto do grupo reuniu 31 mil pessoas. Foi o primeiro desde a entrada em vigor de uma nova lei que pode prender ativistas fralgrados usando máscaras para ocultar o rosto.
Macron esperava na segunda-feira fazer um pronunciamento na TV sobre medidas econômicas, uma resposta concreta às reivindicações dos Coletes Amarelos. Interrompeu a gravação, adiou a fala e foi para Notre-Dame.
Ele tem a oportunidade de passar à História como o presidente que reergueu o moral dos franceses, atingidos em sua alma. Apesar da crise dos últimos meses, sua popularidade havia se recuperado, depois das concessões que aliviaram os protestos. As eleições para a União Europeia, em maio, são outro desafio. O partido de extrema-direita Reunião Nacional, antes conhecido como a Frente Nacional, liderado por Marine Le Pen, tem ganho força e se consolidado como o principal grupo de oposição ao governo.
Tragédias nacionais costumam elevar a popularidade de presidentes franceses. Após os atentados de novembro de 2015, em Paris, por exemplo, François Hollande, subiu 22 pontos nas pesquisas em apenas um mês, alcançando 50% de opiniões positivas. Um movimento semelhante havia sido registrado em janeiro do mesmo ano, logo após os ataques ao jornal Charlie Hebdo.