Não se engane com as imagens que você está vendo na Venezuela. Alguns militares debandaram para o lado da oposição, mas, passadas mais de seis horas do início de mais um dia D em Caracas, o que se pode perceber é que Juan Guaidó não conta com o apoio do alto escalão das forças armadas venezuelanas.
Fiéis da balança do regime, os oficiais do estado-maior — exército, marinha, força aérea, Guarda Nacional, Comando Estratégico Operacional e o Ministro da Defesa — estão com Nicolás Maduro. Ao menos até agora.
Maduro não vai cair enquanto tiver o apoio de seu estado-maior. Grande parte dessa coesão se deve à estrutura criada pelo chavismo e aprofundada pelo madurismo nos últimos anos. São mais de 2 mil generais para um exército de 123 mil homens. No Brasil, com efetivo de 350 mil são cerca de 300.
O que se pode afirmar sobre o apoio a Maduro até o momento:
As Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (Fanb)
São uma das maiores forças militares da América Latina, com 115 mil homens, além de 438 mil reservistas que de vez em quando são chamados. Estão extremamente armados, principalmente por russos. O comando dos três corpos está nas mãos de Pedro Alberto Juliac Lartiguez, da força aérea; Jesús Rafael Suárez Chourio, comandante do exército que foi chefe de segurança particular de Hugo Chávez; e Giuseppe Alessandrello Cimadevilla, da marinha. Há militares dissidentes pelo que se pode observar nesta terça-feira, inclusive utilizando a bandana azul. Mas não são de alto escalão, em geral de baixa e média patente. O governo brasileiro recebeu 70 pedidos de refúgio de militares venezuelanos nos últimos meses.
Guarda Nacional
São cerca de 95 mil homens. O corpo responde diretamente ao presidente. É uma espécie de polícia militarizada. Seu comandante é Richard Jesús López Vargas. É o corpo militar mais truculento nas ruas. Um de seus blindados atropelo militantes nesta terça-feira nos arredores da base aérea de La Carlota, a cena mais dramática do dia. Seus homens são a cara mais visíveis da repressão nas ruas. Chama a atenção, entretanto, que alguns passaram para as fileiras da oposição. Apareceram usando bandanas azuis e sendo aplaudidos por manifestantes.
Polícia Nacional Bolivariana
É um grupo menor — cerca de 35 mil homens. Atuam mais no policiamento urbano. São conhecidos pelas ações de um grupo particular chamado Fuerzas de Acciones Especiales (F.A.E.S), com 1,3 mil militares. Eles costumam invadir comunidades carentes e cometer execuções extrajudiciais. O argumento do governo é de combate ao crime. Contribuem para que a Venezuela tenha uma das taxas de homicídios mais altas do mundo.
Milícia Nacional Bolivariana da Venezuela
São cerca de 2 milhões de homens e mulheres. O grupo foi criado por Hugo Chávez para militarizar a população. Eles devem servir para defender a nação em caso de invasão. São extremamente fiéis ao governo. Provavelmente, serão os últimos a cair em caso de derrubada do governo.
Coletivos
São a última linha de defesa de Maduro. São formados por populares desde que Hugo Chávez chegou ao poder. Eles se definem como movimentos sociais, auxiliam em programas de assistência do governo, mas atuam também como paramilitares – principalmente dedurando possíveis opositores. Não há sinais de deserção até o momento.
Vladimir Padrino
Junto com Diosdado Cabello (presidente da Assembleia Nacional Constituinte), Vladimir Padrino é a cara pública de Nicolás Maduro nessa crise. É o ministro da Defesa do país, que nesta terça-feira, reafirmou sua lealdade ao presidente.
É da confiança do regime. Ascendeu rapidamente nas fileiras chavistas depois que resistiu ao golpe contra Hugo Chávez, em 2002, quando era comandante de um batalhão. Tem interlocução livre com Cuba e o apoio militar russo, inclusive a chegada de dois aviões militares enviados pelo Kremlin passa por suas mãos.