Uma das idiossincrasias da falsa democracia venezuelana se manifesta na posse desta quinta-feira de Nicolás Maduro: o presidente prestou juramento perante o Poder Judiciário e não, como em qualquer país descente do mundo, ao Legislativo.
É diante dos juízes biônicos do Tribunal Supremo de Justiça, controlado pelo governo, que Maduro inaugurou o segundo mandato, e não perante a Assembleia Nacional, como estabelece a Carta Magna do país. Ou seja, Maduro jurou defender a Constituição "bolivariana" já a desobedecendo.
O parlamento eleito em 2015 – primeira e única vitória da oposição desde que o chavismo assumiu o poder, em 2003 – foi declarado em "desacato" e não é reconhecido pelo governo.
Uma Assembleia Nacional Constituinte foi colocada no lugar, sem participação de críticos do regime – para muitos, o ato número 1 da ditadura. Na prática, o órgão — presidido pelo número 2 do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) — está a serviço dos interesses de Maduro.
Se chegar ao final do novo mandato, o presidente terá ficado até 2025 no Palácio de Miraflores. Maduro chega ao dia de hoje mais isolado do que nunca, mas firme no poder.
Daí outra das idiossincrasias do país de faz de contas em que a Venezuela se transformou. O ultimato do Grupo de Lima, integrado por 13 países, entre eles o Brasil, para que Maduro não assumisse é algo como o rompimento de relações diplomáticas com a Venezuela: a partir desta sexta-feira, altos funcionários do governo madurista não poderão entrar nessas nações.
A esvaziada cerimônia de posse é sintomática desse isolamento: apenas os amigos do regime, Evo Morales (Bolívia), Miguel Díaz-Canel (Cuba) e Daniel Ortega (Nicarágua), participaram do ato em Caracas.
Em oposição ao isolamento externo, no campo interno Maduro reina soberano sobre a população cada vez mais aos frangalhos. O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um aumento dos preços de 1.800.000% em dois anos. O presidente até balança, como no ataque de drones durante um ato militar, em agosto do ano passado, mas enquanto tiver as forças armadas na mão – e ele as tem –, o regime não cai.